Paulo Freire de volta a Angicos, em 1993: ele e a cidade parecem agora um conjunto indissociável. “Aqui até o vendedor de picolé sabe de Paulo Freire”, diz um morador CRÉDITO: ACERVO DO MEMORIAL VIRTUAL PAULO FREIRE_1993
A primeira experiência de Paulo Freire em Angicos
Há sessenta anos, 300 pessoas de um pequeno município no interior de Rio Grande do Norte foram alfabetizadas em 40 horas no primeiro experimento em grande escala do método Paulo Freire
André Gravatá | Edição 207, Dezembro 2023
A memória de Luzia de Andrade está “meio desnorteada”, como ela diz, mas, mesmo tendo esquecido algumas passagens de sua vida, a senhora de 87 anos se lembra bem do que ocorreu seis décadas atrás, no aniversário de sua mãe, uma lavadeira que mantinha a casa sozinha (o marido agricultor havia abandonado a família). “Eu não tinha o que dar pra minha mãe. Fiz o esforço de aprender a escrever o nome dela e dar de presente”, conta Luzia, na casa de alvenaria e telhas de barro onde vive atualmente no Centro de Angicos, no sertão do Rio Grande do Norte.
Ao receber o presente, a mãe perguntou: “Que letras são essas? Quero saber como é o meu nome.” O papel nas mãos de Maria das Dores de Andrade era um tesouro pessoal e um documento histórico ao mesmo tempo. Em 1963, foi feita em Angicos a primeira aplicação em grande escala do método de alfabetização desenvolvido pelo educador pernambucano Paulo Freire. Em 40 horas, trezentas pessoas foram alfabetizadas, entre elas Luzia de Andrade, que tinha então 27 anos.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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