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Chico Buarque aos olhos da irmã menor

    Ana de Hollanda e Chico Buarque nos anos 1950, na casa da Rua Haddock Lobo, em São Paulo, com a Babá ao fundo: “Nós, as meninas menores, tínhamos Chico como um ídolo particular” CRÉDITO: ÁLBUM DE FAMÍLIA

memória

Chico Buarque aos olhos da irmã menor

De todos os comentários que faziam sobre ele, o mais absurdo era chamá-lo de tímido

Ana de Hollanda | Edição 211, Abril 2024

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O ano era 1957. Morávamos no bairro de Pinheiros, em São Paulo, numa casa pequena, insuficiente para acomodar pai com escritório, mãe, sete filhos de todas as idades[1] e a Babá, que passara a ocupar a função de cozinheira. Minha mãe durante a metade daquele ano procurou outra moradia para sair da que se viu obrigada a se instalar às pressas, havia dois anos, quando chegamos da Itália. Certa noite ela anunciou que finalmente encontrara uma casa que Papai teria condições de alugar, onde caberíamos todos. Lembro-me bem da minha decepção quando, no bairro do Pacaembu, dobramos a esquina e Mamãe, realizada, disse para olharmos a casa nova. Vi uma casa velha de arquitetura meio normanda, com aspecto de total abandono e, do lado oposto da rua, outra novíssima de arquitetura estilo dos anos 1950, que, por segundos, quis que fosse a nossa.

Não consigo imaginar, hoje, um cenário que não seja este, o da Rua Buri, 35, para a história da minha família. Papai e seu escritório, seus alunos, amigos, pesquisadores, as paredes forradas de livros, Mamãe, nós sete, a Babá, a Generosa, gatos, agregados, frequentadores de todas as gerações, cantorias, brincadeiras, jogos, festas com centenas de pessoas e as constantes reuniões políticas.

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