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    Protesto em forma de bordado feito por um coletivo de mulheres de Araçuaí: “Quando explodem dinamites nas minas, a terra treme tanto que os escorpiões saem das tocas”, diz uma moradora CRÉDITO: SARA ALVARENGA_2024

questões minerais

A corrida pela riqueza do lítio na pequena Araçuaí

Na cidade mineira já atuam duas mineradoras e três estão em fase de implantação

Karla Monteiro | 19 jul 2024_15h05
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Nas ruas da cidade mineira de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, o assunto principal é o lítio. O Serviço Geológico do Brasil estima que a região onde fica o município concentra 8% das reservas mun­diais e 85% das reservas brasileiras desse mineral. Por ser usado na composição de baterias para carros elétricos, o lítio é tido como fun­damental à transição energética. Também é empregado na fabricação de remédios para transtorno bipolar, de gra­xas lubrificantes e até na criação de um composto que ajuda a resfriar reatores nucleares. Catorze cidades do Vale do Jequitinhonha compõem a região agora chamada de “Vale do Lítio” mineiro.

Em Araçuaí, duas empresas já exploram o minério: a Companhia Brasileira de Lítio (CBL) e a canadense Sigma Li­thium (que tem cerca de 40% de capital brasileiro). Outras três estão em fase de implantação: a americana Atlas Lithium, a também canadense Lithium Ionic e a australiana Latin Resources. Além dessas empresas, pelo menos mais dez estão re­alizando estudos para a exploração, informa Karla Monteiro, na edição deste mês da piauí.

A corrida ao mineral já se faz sentir em diver­sos setores em Araçuaí, onde vivem 34,3 mil pessoas, cuja renda média não ultrapassa 1,7 sa­lário mínimo. Na construção civil, tudo dobrou de preço, dos terrenos ao cimen­to. Estão sendo construídos três hotéis de alto padrão, dois postos de gasolina e vários galpões para atender às empresas terceirizadas que chegam com milhares de funcionários. “Eu sei de terras que antes valiam 40 mil reais e, com a des­coberta de lítio, foram vendidas por 2 milhões de reais”, diz Cleuber Francisco da Silva, vice-presi­dente da Associação Comercial, Indus­trial e de Serviços da cidade. Como podem pagar mais, os forasteiros que vêm trabalhar nas mineradoras estão empurrando a popu­lação local para os arredores e modifi­cando completamente as relações sociais. “Temos o índice X-Tudo”, brin­ca o corretor Vinícius Martins, gerente da Rede Max Imóveis. “Um sanduíche que custava 15 reais saltou para 30 re­ais, um aluguel de 500 reais passou para 1 mil reais.”

No Centro de Araçuaí ainda se sente a esperan­ça, mas nos povoados na zona rural da cidade é mais comum encontrar a revolta. Maria Sttefani Ferreira Jardim, tesou­reira da associação local de moradores de Fazenda Velha, batalha por melhorias para a pequena comunidade que tem pouco mais de cinquenta casas e fica entre as duas grandes minera­doras, a CBL e a Sig­ma. “Quando explodem as dinamites usadas na mineração, balança tudo”, diz ela. “A terra treme tanto que os escorpiões saem das tocas.”

Segundo o Serviço Geológico do Bra­sil, o país já ocupa o quinto lugar na pro­dução mundial de lítio, embora suas reservas ainda não estejam devidamente mapeadas. As principais reservas brasilei­ras conhecidas estão concentradas em Minas Gerais, onde se localizam as mi­nas ativas e os projetos mais avançados de exploração. Mas também existem áreas po­tenciais no Nordeste, como nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraí­ba.

Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.

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