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    "Depois de dias de céu tenebroso (o agro é fog), apareceu uma Lua cheia extraordinária no céu. Deu saudade de ver a profusão de fotos dela no X, sempre com zooms tão horríveis que mal dava para saber se era a Lua ou uma lâmpada de rua. Tradições que se perdem." Ilustração: André Dahmer

anais da abstinência

A vida sem dar um pio – parte III

Que show do X é esse?

Gilberto Porcidonio, do Rio de Janeiro | 23 set 2024_16h49
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Terceira semana e sigo como naquele hit de festa indie cantado pelo Gotye: o X virou apenas somebody that I used to know. Até o momento, a plataforma continua bloqueadaça, mas o jogo parece estar virando. A questão é: caso o Elon Musk dê o braço a torcer e tudo se regularize, valerá a pena voltar pro eX?

 

Domingo, 15 de setembro

23h – Fui assistir ao debate da TV Cultura justamente no momento em que o Datena produziu um corte para o Pablo Marçal. Digo, uma fratura. Achei de um desrespeito total. O Deep Purple se apresentava no Rock In Rio justamente nessa hora.

23h15 – “Smoke on the water, fire in the Bluesky…”

23h45 – Além da eterna discussão “Rock In Rio tem que ter rock” (fico imaginando se, no primeiro Woodstock, tinha gente reclamando que não encontrou madeira), havia duas coisas bem assustadoras de acompanhar pelo X: o próprio Rock In Rio e os debates eleitorais. É que, em ambos os casos, as pessoas têm um sadismo enorme em comentar performances que despertam vergonha alheia. Como diria Thomas Hobbes, o homem é o tuiteiro do homem.

23h59- Fiquei na dúvida se o X matou a crônica e a crítica, ou se ele transformou a crítica numa coisa crônica.

 

Segunda-feira, 16 de setembro

10h – O dia começou dominado por dois assuntos: a cadeirada e os memes com a cadeirada. Eis um péssimo sinal para o X: ele não precisa mais existir para que os assuntos capitalizados por ele viralizem tão rápido. É como aquele paradoxo do Navio de Teseu: se as pessoas saem do ex-Twitter e fazem a mesma coisa que faziam nele em outras redes, o X continua sendo o X? Pensamentos.

11h30 – Lembrei de passar o café.

 

Terça-feira, 17 de setembro

21h- Depois de dias de céu tenebroso (o agro é fog), apareceu uma Lua cheia extraordinária no céu. Deu saudade de ver a profusão de fotos dela no X, sempre com zooms tão horríveis que mal dava para saber se era a Lua mesmo ou uma lâmpada de rua. Tradições que se perdem.

 

Quarta-feira, 18 de setembro

9h30 – Soube que, bizarramente, alguns usuários brasileiros do falecido conseguiram entrar e postar no X. O STF disse que isso poderia ser apenas uma “instabilidade no bloqueio de algumas redes”, mas o Elon Musk assumiu que fez um truque tecnológico pra furar o bloqueio no Brasil. Isso não pode acontecer. Que show do X é esse?

10h – O Musk fez essa manobra achando que todos os brasileiros voltariam para a plataforma de arrobas abertas. Mas não. O X é cada vez mais apenas uma sombra do que já foi, já que deixou o seu viés democrático ser asfixiado de vez por reacionários patológicos e golpistas de primeira linha. Poderia se chamar PSDB.

 

Sexta-feira, 20 de setembro

21h – Parece que o Elon Musk descobriu, sei lá como, que precisa seguir a lei dos países onde ele atua, e está arranjando um representante legal do X no Brasil. Mas o estrago já foi feito. Ninguém com a mente sã acha aquilo mais tão legal.

21h02 – A questão é: caso tudo se regularize, valerá a pena voltar pro eX? E se a gente voltar, como será desse momento em diante? Vai ser um mundo completamente diferente, tipo após o blip do Universo Cinematográfico Marvel, quando Tony Stark faz metade das pessoas do universo retornarem da morte? Seria Alexandre de Moraes o nosso Homem de Ferro?

 

Sábado, 21 de setembro

13h – O nosso Homem da Toga de Ferro cravou cinco dias para o Musk comprovar a regularidade do X no país. Parece que a volta não tem volta mesmo.

16h – Fui dar uma volta na Lagoa. Vi muitas pessoas caminhando, correndo, pedalando e fazendo piqueniques. Ninguém discutia a possível volta do X. Ao ver um ciclista que passou me olhando estranho, incorporei um Cazuza que indagava quem era feliz pelas ruas do Leblon e berrei para ele: “Você quer o X? Você quer o X?” Ele disse que já havia ido ao banheiro, obrigado.

21h- Vi que a compra do Twitter se tornou o pior negócio dos últimos dezesseis anos para bancos. Enfim o Elon Musk provou que foguete pode dar ré.

 

Domingo, 22 de setembro

17h- Achei muito difícil acompanhar ao vivo toda a treta sobre os crimes do P. Diddy e agregados sem o X. Digo, sem o Black Twitter, que era a tuitersfera formada por nós, os tuiteiros negros daquela rede. Mas eu descobri que, agora, existe o Blacksky, a versão no Bluesky do Black Twitter no X. Achou complicado? Imagina as discussões.

17h30- Graças a isso, também percebi que o Bluesky tem bem menos pessoas negras do que o antigo Twitter. A sensação é a de cruzar o Túnel Rebouças da Zona Norte do Rio para a Zona Sul.

21h- Tive um ataque de riso vendo o Akon berrar “São Paulo” em pleno Rock In Rio. Faz sentido. Ele também estava num local com altos índices de roubo de celular.

 

Segunda-feira, 23 de setembro

9h – Como a volta do X no BR parece inevitável e, para impedir que ele voltasse a ser chamado de Instituto Banana Preta (quando qualquer coisa saudável por lá levava segundos para apodrecer), propus que criássemos uma espécie de regra de etiqueta no retorno dele. É algo simples: é só pegar tudo o que a gente fazia lá e não fazer. Juntei todos os possíveis interessados em um gigantesco grupo de zap e expus minha proposta. Assim, poderemos criar uma massa crítica com capacidade de influenciar todos os outros usuários, uma verdadeira ágora democrática que, enfim, cumpriria os anseios mais utópicos desde o surgimento das redes sociais, quiçá da internet. Por que não? Assumo que fiquei orgulhoso da minha ideia.

9h01 – Todos saíram do grupo.

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