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despedida

Seca literária

O fim da Xingu, única livraria num raio de mil quilômetros na Amazônia

Jamil Chade | Edição 218, Novembro 2024

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Em Altamira, numa tarde abafada de outubro, Moisés da Costa Ribeiro encaixota centenas de livros enquanto se lembra novamente da dívida com editoras que o assombra há pelo menos três anos. Localizada no Pará, a cidade de 126 mil habitantes é a mais extensa do país. Tem quase 160 mil km², área maior que a de dez estados brasileiros. Desde 2019, Ribeiro tocava sozinho a Xingu, única livraria não apenas no município, mas num raio de 1 mil km em torno dele. Agora, a loja fechou. “Estou triste demais…”, lamenta o livreiro, por telefone. Seu desejo quixotesco de “vender livros progressistas” à beira da Floresta Amazônica sofreu um baque difícil de reverter.

A Xingu ficava na região central de Altamira. Ocupava um pequeno box dentro do Camelódromo José Góes, espaço implantado pela prefeitura onde se negocia de tudo: roupas, calçados, bijuterias, adornos, flores artificiais, games, licores e garrafadas com produtos medicinais. “Sempre soube que o público de lá não curte muito literatura. Mesmo assim, insisti na coisa”, diz Ribeiro. Ele acreditava que os eventuais leitores iriam preferir comprar livros in loco em vez de online. “Encomendas pela internet geralmente levam um tempão para chegar ao interior da Amazônia.”

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