A mão que invade o quadro de William Dyce, de 1837, é misteriosa, mas a mão golpista sobre a democracia brasileira é inconfundível: “Tem que ser a rataria. Bolsonaro e a rataria” CREDITO: FINE ART IMAGES_HERITAGE IMAGES VIA GETTY IMAGES
O golpista
As 533 digitais de Bolsonaro na articulação para “virar a mesa”
Breno Pires | Edição 219, Dezembro 2024
Os braços para trás e as mãos entrelaçadas ajudavam-no a manter a postura ereta. Estava vencido, mas não rendido. No Palácio da Alvorada, à frente do espelho d’água que o separava das centenas de apoiadores, ele rompeu o silêncio de quarenta dias, desde a sua derrota nas urnas para o presidente Lula. Era 9 de dezembro de 2022, sexta-feira, 16h30. Jair Bolsonaro discursou por 16 minutos, mesclando lamento e esperança, em uma ambiguidade calculada. Disse frases como “vamos vencer”, “ponto final somente com a morte”, “tudo dará certo no momento oportuno” e “cada minuto é um minuto a menos”.
Desde o dia 19 de novembro passado, o discurso de Bolsonaro de dois anos atrás ganhou enorme clareza. Enquanto oferecia iscas de esperança aos apoiadores – “não é fácil você enfrentar todo um sistema”, mas “nada está perdido” –, alguns de seus principais auxiliares, quase todos militares, tramavam um golpe de Estado que incluía um plano terrorista: matar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Os métodos dos assassinatos: uso de artefato explosivo ou envenenamento em evento oficial e público, ou administração de substância química para causar colapso orgânico em ambiente hospitalar.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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