Fata Morgana
Werner Herzog de novo – prolífico e vigoroso
Além de ser um dos cineastas contemporâneos mais prolíficos, tendo dirigido 57 filmes em cerca de 40 anos de carreira, os 5 mais recentes entre 2010 e 2012, Werner Herzog é dos raros realizadores em atividade que mantém a cada novo projeto o interesse e vigor característicos da sua obra desde Fata Morgana e Aguirre, A cólera dos deuses, realizados no início da década de 1970.
Além de ser um dos cineastas contemporâneos mais prolíficos, tendo dirigido 57 filmes em cerca de 40 anos de carreira, os 5 mais recentes entre 2010 e 2012, Werner Herzog é dos raros realizadores em atividade que mantém a cada novo projeto o interesse e vigor característicos da sua obra desde e Aguirre, A cólera dos deuses, realizados no início da década de 1970.
Fiel às suas convicções, Herzog é dos poucos remanescentes de uma geração, formada na década de 1960, para a qual fazer cinema foi uma razão de viver. Workaholic, além de dirigir filmes, encena óperas, mantém um curso de cinema itinerante, trabalha como ator, etc. Embora nem sempre mantenha o mesmo nível de excelência, preserva sua identidade autoral, situando-se em patamar cada vez mais rarefeito, ao qual a mediocridade do cinema que, de maneira geral, vem sendo produzido sequer vislumbra a possibilidade de alcançar.
No campo da ficção, a vitalidade dos filmes de Herzog pode ser atestada por Vício frenético (2009), atualmente em exibição periódica nos canais Telecine. De um modo que talvez só um cineasta estrangeiro seria capaz de fazer, traça retrato inquietente e impiedoso de um alucinado mau tenente da polícia de Nova Orleans. Rompendo com as amarras do realismo, leva as situações ao seu paroxismo, e trata os lugares comuns do gênero com ironia.
Embora tenha se definido como um contador de histórias, rejeitando tentativas de classificar seus filmes por gênero, é fazendo documentários que Herzog vem se mantendo em permanente atividade, sempre atraído por situações limite e personagens excêntricos.
Em Ao abismo – Um conto de vida, um conto de morte, exibido há duas semanas no festival É Tudo Verdade, Herzog retoma seus temas preferidos para contar mais uma tragédia americana.
Assassinato triplo cometido por motivo fútil – roubar um carro esporte vermelho por três dias –, leva dois jovens a serem condenados, um à morte, o outro à prisão perpétua. Tendo aceito serem entrevistados por Herzog, as autoridades carcerárias concedem apenas 50’, a duração de uma visita, para os depoimentos, dados através de uma parede de vidro.
Em tão pouco tempo, sem nenhum contato pessoal anterior com os condenados – Michael Perry e Jason Burkett –, Herzog consegue, com grande habilidade, interagir com ambos e registrar seus depoimentos. Perry, a 8 dias de uma injeção letal. Burkett com a prisão perpétua à frente. Para um, talvez a última oportunidade de se expressar; para o outro, rara ocasião de ser ouvido.
A urgência do registro pode estar na origem da simplicidade e crueza da imagem que resulta, de qualquer modo, adequada ao assunto. Iluminação crua e planos fixos dão a Ao abismo muito da sua força.
Herzog não faz um filme de tese contra a pena de morte, embora em entrevistas deixe clara sua posição contrária. Experiente e sábio, o que procura é conhecer os vários personagens, além dos dois condenados, e obter de cada um a revelação de seu perfil.
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