A cidade e o cinema – sobrevivência e extermínio
O Rio de Janeiro sobreviverá, apesar da RioFilme e da Rio Film Commission. A cidade preservará seus encantos e suas mazelas, assim como Los Angeles, Tóquio e outras por onde os “Velozes e Furiosos” passaram. Graças à inoperância dos governos estadual e municipal, porém, as produtoras de cinema sediadas no Rio poderão ser extintas. Transformada numa agência de turismo, a RioFilme e a Rio Film Commission atendem, em caráter prioritário, interesses de produtores internacionais, deixando em segundo plano as demandas dos produtores e realizadores brasileiros.
O Rio de Janeiro sobreviverá, apesar da RioFilme e da Rio Film Commission. A cidade preservará seus encantos e suas mazelas, assim como Los Angeles, Tóquio e outras por onde os “Velozes e Furiosos” passaram.
Graças à inoperância dos governos estadual e municipal, porém, as produtoras de cinema sediadas no Rio poderão ser extintas. Transformada numa agência de turismo, a RioFilme e a Rio Film Commission atendem, em caráter prioritário, interesses de produtores internacionais, deixando em segundo plano as demandas dos produtores e realizadores brasileiros.
Ninguém qualificado para exercer cargo executivo em empresa ligada à atividade cinematográfica pode ter sido surpreendido por “Velozes e Furiosos 5”. Bastaria ter visto os filmes anteriores da série para prever a mediocridade que estava por vir.
Ainda assim, logo que os primeiros comentários sobre o filme começaram a circular, Sérgio Sá Leitão, presidente da RioFilme, distribuidora da Prefeitura vinculada à Secretaria Municipal de Cultura, mesmo admitindo que o modo como a cidade aparece “não é, no geral, positivo”, sentiu necessidade de justificar o apoio dado à produção, em artigo publicado no “Globo” dois dias depois da pré-estreia mundial, ocorrida no Rio em 15 de abril.
Também no “Globo”, Rodrigo Fonseca escrevera dias antes: “se alguém esperava que ‘Velozes e furiosos 5’ […] promovesse a imagem carioca, o tiro saiu pela culatra”. O que se vê no filme, adiantava Fonseca, é uma cidade violenta dominada “pela corrupção policial”. Criticava, dessa maneira, de forma indireta, o apoio dado à produção de “Velozes e Furiosos 5” pela RioFilme e pela Rio Film Commission, já que uma de suas justificativas seria promover a cidade.
Sérgio Sá Leitão, por sua vez, dando como certo o que é no mínimo discutível – ou seja, o desejo do Rio de Janeiro “se consolidar como um polo internacional de cinema e audiovisual” –, defendia o apoio em nome do suposto “impacto na geração de renda e emprego e na atração de investimentos”, afirmando que “Velozes e Furiosos 5” teria representado “a entrada de 2 milhões de dólares na economia carioca e a geração de 400 empregos”.
No seu primeiro comentário, Fonseca dava a entender que o filme era ruim, mas só o afirmaria de maneira clara semanas depois, na crítica publicada em 5 de maio, véspera da estreia. Sá Leitão, de seu lado, admitia que o filme não tinha valor ao advertir, com descabida condescendência, que o Rio “tem de aprender a lidar com todos os tipos de filmes, não apenas os que enaltecem a cidade […].”
Quem primeiro pôs o dedo na ferida, dias depois da estreia, foi Cora Rónai, também no “Globo”: “eu gostaria que o Sérgio Sá Leitão me explicasse qual é a vantagem que um filme desses traz ao Rio, já que o grosso da grana fica em Porto Rico?”. O eloquente silêncio de Sá Leitão fala por si, sendo difícil identificar benefícios econômicos que não sejam apenas pontuais e passageiros.
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A nota ‘Ao estilo Hollywood’, publicada na coluna ‘Gente Boa’ do “Globo” em 1 de maio, talvez possa ser entendida como resposta de Sá Leitão a Cora Rónai. Além de reproduzir foto tratada no Photoshop de verdejante encosta do Corcovado, com Rio de Janeiro escrito em letras garrafais – cópia do famoso out-door no alto de um monte do parque Griffith, em Hollywood –, o texto informa que “a ‘Variety’ que circulará no Festival de Cannes terá anúncio da RioFilme convidando produções estrangeiras a filmar aqui. Lembra que o Rio vai além da beleza natural. Tem cenário para todos os gostos e apoio logístico de ponta, com bons equipamentos e produtores.”
Ou seja, o governo do Estado e a Prefeitura, através das suas secretarias de Cultura, insistem em privilegiar ações voltadas para fazer da cidade uma locação, além de fornecedora de mão de obra e serviços técnicos para produções estrangeiras. Distorção que agrava os males que a RioFilme traz de origem por ter sido criada como contrafação da Embrafilme apenas para assegurar emprego a alguns ex-funcionários da estatal extinta em 1990.
Além de reiterar e ampliar a dúvida levantada por Cora Rónai – qual é a vantagem efetiva que as produções estrangeiras trazem para a cidade e para a atividade cinematográfica carioca? –, não será o caso de fazer pelo menos uma outra pergunta mais relevante: como fica o “fomento à produção audiovisual, visando o efetivo desenvolvimento da indústria audiovisual carioca” – principal finalidade da RioFilme, anunciada no site da empresa?
Isso, sem esquecer a contradição, talvez insanável, da RioFilme ser uma empresa distribuidora municipal quando seria preciso existir um órgão de fomento estadual atuando para fortalecer a criação, produção e distribuição de filmes brasileiros em escala nacional e internacional.
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