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A contribuição de Hilda Hilst

Datada de outubro de 1979, a carta aborda inicialmente o projeto de publicação de um volume com sua poesia completa, do qual Hilda quer expurgar as primeiras produções:

“Achei prudente não colocar os três primeiros livros (verdade que são horríveis!). Achei meus primeiros poemas todos muito ruins, alguns totalmente idiotas, Wilson Martins disse uma vez que deveria ser proibido a menores de 25 anos publicar poesia, endosso agora completamente, com Presságio eu tinha 20, com Balada de Alzira, 21, com Balada do Festival (o melhorzinho), tinha 25".

| 13 maio 2014_14h47
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Se não tem ainda, nem de longe, a reputação internacional de sua quase contemporânea Clarice Lispector, a escritora paulista Hilda Hilst é geralmente respeitada pela melhor crítica do Brasil como uma das maiores escritoras da língua portuguesa no século passado.

Dez anos mais moça que Clarice e sete que Lygia Fagundes Telles, sua grande amiga, Hilda retirou-se aos trinta e cinco anos para uma casa de fazenda perto de Campinas, que foi reformando ao longo dos anos e que batizou de “Casa do Sol”.

As tiragens de seus livros foram sempre pequenas. A escritora reclamava de ser pouco lida, ainda que muito admirada como uma das figuras maiores da paisagem literária brasileira, e reconhecida em vida por seus pares e por fãs entusiastas.

Já ganhadora de alguns dos prêmios literários mais prestigiosos do país, ainda assim, aos quase cinquenta anos, Hilda define-se de forma modesta na carta reproduzida abaixo, dirigida ao crítico Homero Silveira.

Datada de outubro de 1979, a carta aborda inicialmente o projeto de publicação de um volume com sua poesia completa, do qual Hilda quer expurgar as primeiras produções:

“Achei prudente não colocar os três primeiros livros (verdade que são horríveis!). Achei meus primeiros poemas todos muito ruins, alguns totalmente idiotas, Wilson Martins disse uma vez que deveria ser proibido a menores de 25 anos publicar poesia, endosso agora completamente, com eu tinha 20, com Balada de Alzira, 21, com Balada do Festival (o melhorzinho), tinha 25.

Só quando se é gênio, como Rimbaud, é que dá certo. Então vou sugerir (…) que fique assim: Poesia (1959 – 1979).  São vinte anos de poesia, não quero que a essa altura dos fatos, venha alguém muito chato e diga: olha que ruinzinha que ela era aos 20! E comece a desancar. Ah, isso não, quando eu morrer, aí falem tudo que quiserem, agora não, vou me magoar, vou ficar tristinha, ainda sou sensível a críticas amargas, às palavras ferinas.”

Hilda continua a carta evocando sua obra passada: “Tenho alguma vaidade quanto à minha ficção, acho que fiz algumas experiências ousadas na prosa narrativa.  Outros farão melhor,  mas contribuí para alguma coisa pequena-nova dentro da literatura brasileira, da língua portuguesa. Quanto à minha poesia, sou descontente, há alguns bons momentos, poucos. Muitos anos, e pouca coisa realmente boa.”


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Passados 35 anos dessa carta, a opinião dos críticos é quase unânime: aquilo que Hilda chama de “alguma coisa pequena-nova dentro da literatura brasileira, da língua portuguesa”, é vista hoje como uma contribuição maior à nossa língua literária, num momento em que a legião de admiradores de Hilda, morta em 2004,  vem crescendo no Brasil, em Portugal e no mundo, com várias novas traduções.

Essa carta fez parte do espólio de Homero Silveira e foi vendida, após o falecimento deste nos anos 1990, para seu atual detentor, onde juntou-se a um acervo privado de cartas e manuscritos literários brasileiros.

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