Protesto em forma de bordado feito por um coletivo de mulheres de Araçuaí: “Quando explodem dinamites nas minas, a terra treme tanto que os escorpiões saem das tocas”, diz uma moradora CRÉDITO: SARA ALVARENGA_2024
A corrida pela riqueza do lítio na pequena Araçuaí
Na cidade mineira já atuam duas mineradoras e três estão em fase de implantação
Nas ruas da cidade mineira de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, o assunto principal é o lítio. O Serviço Geológico do Brasil estima que a região onde fica o município concentra 8% das reservas mundiais e 85% das reservas brasileiras desse mineral. Por ser usado na composição de baterias para carros elétricos, o lítio é tido como fundamental à transição energética. Também é empregado na fabricação de remédios para transtorno bipolar, de graxas lubrificantes e até na criação de um composto que ajuda a resfriar reatores nucleares. Catorze cidades do Vale do Jequitinhonha compõem a região agora chamada de “Vale do Lítio” mineiro.
Em Araçuaí, duas empresas já exploram o minério: a Companhia Brasileira de Lítio (CBL) e a canadense Sigma Lithium (que tem cerca de 40% de capital brasileiro). Outras três estão em fase de implantação: a americana Atlas Lithium, a também canadense Lithium Ionic e a australiana Latin Resources. Além dessas empresas, pelo menos mais dez estão realizando estudos para a exploração, informa Karla Monteiro, na edição deste mês da piauí.
A corrida ao mineral já se faz sentir em diversos setores em Araçuaí, onde vivem 34,3 mil pessoas, cuja renda média não ultrapassa 1,7 salário mínimo. Na construção civil, tudo dobrou de preço, dos terrenos ao cimento. Estão sendo construídos três hotéis de alto padrão, dois postos de gasolina e vários galpões para atender às empresas terceirizadas que chegam com milhares de funcionários. “Eu sei de terras que antes valiam 40 mil reais e, com a descoberta de lítio, foram vendidas por 2 milhões de reais”, diz Cleuber Francisco da Silva, vice-presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços da cidade. Como podem pagar mais, os forasteiros que vêm trabalhar nas mineradoras estão empurrando a população local para os arredores e modificando completamente as relações sociais. “Temos o índice X-Tudo”, brinca o corretor Vinícius Martins, gerente da Rede Max Imóveis. “Um sanduíche que custava 15 reais saltou para 30 reais, um aluguel de 500 reais passou para 1 mil reais.”
No Centro de Araçuaí ainda se sente a esperança, mas nos povoados na zona rural da cidade é mais comum encontrar a revolta. Maria Sttefani Ferreira Jardim, tesoureira da associação local de moradores de Fazenda Velha, batalha por melhorias para a pequena comunidade que tem pouco mais de cinquenta casas e fica entre as duas grandes mineradoras, a CBL e a Sigma. “Quando explodem as dinamites usadas na mineração, balança tudo”, diz ela. “A terra treme tanto que os escorpiões saem das tocas.”
Segundo o Serviço Geológico do Brasil, o país já ocupa o quinto lugar na produção mundial de lítio, embora suas reservas ainda não estejam devidamente mapeadas. As principais reservas brasileiras conhecidas estão concentradas em Minas Gerais, onde se localizam as minas ativas e os projetos mais avançados de exploração. Mas também existem áreas potenciais no Nordeste, como nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.
Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.
Leia Mais
Assine nossa newsletter
Email inválido!
Toda sexta-feira enviaremos uma seleção de conteúdos em destaque na piauí