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    Imagem: Reportagem do Wall Street Journal publicada no final de abril

questões da política

A crise brasileira lá fora

Consuelo Dieguez | 04 maio 2016_18h04
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Nunca o noticiário estrangeiro esteve tão atento ao Brasil. E não apenas a imprensa de países vizinhos, como ocorria no passado: não há um dia em que não sejamos citados em jornais europeus, americanos e asiáticos. E, pelo menos no momento, as referências não são das melhores.

Nos dias subsequentes à queda da ciclovia no Rio de Janeiro, o New York Times reservou à tragédia um espaço maior do que vinha dedicando ao processo de impeachment da presidente. Mas são a crise política e, consequentemente, a crise econômica, as notícias que mais se destacam. Além dos jornais portugueses, que em geral fazem grandes reportagens sobre o Brasil, agora também os franceses, ingleses e americanos estão com os olhos voltados para o cenário brasileiro. Recentemente o americano Wall Street Journal publicou duas páginas sobre a corrupção e a crise. Personagens que pareciam tão nossos, tão íntimos, ganharam o mundo. Eduardo Cunha, por exemplo, já virou figurinha fácil.

Neste fim de semana, o El País pintou o presidente da Câmara praticamente como um personagem sinistro, desses de filme de suspense. “Se alguém de fora quisesse analisar o fenômeno Eduardo Cunha, não poderia deixar de se perguntar por que todos o temem.” E continua. “É um medo irracional ou real? Esse medo se aprofunda se for verdade que, caso seja preso, ele já tenha no bolso uma delação premiada, cujas provas mantêm lacradas talvez fora do país, com potencial de fazer tremer meia República. Serão seus segredos a força de seu poder?” E por aí vai.

Joe Leahy, correspondente em São Paulo do Financial Times, diz que a presidente Dilma Rousseff não está sofrendo processo de impeachment por manipular as contas públicas. “O maior crime, na verdade, aos olhos do mercado, da indústria e dos eleitores, foi o assassinato de um dos mais promissores crescimentos mundiais da história.” E segue apresentando dados de inflação e recessão. Por fim, comenta que integrantes do partido do vice-presidente Michel Temer, ele inclusive, também estão ligados ao escândalo de corrupção da Petrobras – ele se abstém de nomear a Lava Jato –, o que faz os investidores estrangeiros permanecerem cautelosos em relação ao Brasil. Já o Diário de Notícias português escancarou nossa Lava Jato em sua manchete de 30 de abril: “Lava Jato: empresa brasileira quis travar investigação em Portugal.” O Wall Street Journal estampou uma foto da presidente no comício da Central Única dos Trabalhadores, no Primeiro de Maio, em São Paulo, no qual ela falou de sua luta para permanecer no cargo.

Esses são apenas alguns exemplos do último fim de semana. Um rápido passeio pela internet comprova que frequentamos quase uma centena de publicações ao redor do mundo. O governo está acompanhando a repercussão dos acontecimentos em mais de 91 publicações internacionais.

A despeito da atual ebulição do noticiário, não é de hoje que o interesse da imprensa estrangeira pelo Brasil vem aumentando, como atesta o crescimento do número de correspondentes internacionais lotados no país. Até 2007, havia dois clubes de imprensa estrangeira: um no Rio, outro em São Paulo. Agora Brasília já tem o seu. Várias agências de notícias também aportaram, sendo que a Bloomberg lançou até mesmo um serviço em português. Segundo analistas que, a pedido do governo, acompanham o comportamento da imprensa internacional, mesmos as publicações estrangeiras que estavam instaladas antes de 2007 reforçaram seus quadros. Além disso, passaram a contratar profissionais brasileiros para melhor explicar o país a seus leitores.

Segundo um desses analistas, o Brasil vem ganhando relevância lá fora. “A importância do país foi percebida no cenário internacional, independentemente da crise.” E, pelos contatos que vem tendo com os correspondentes, ele já diagnosticou que essa é uma realidade que veio para ficar. Tanto que, apesar das agruras econômicas em seus países de origem, não houve cortes nos quadros sediados aqui. Na verdade, houve reforço.

Assim, nosso até então desconhecido vice-presidente Michel Temer – hoje já perfilado em vários jornais –, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, as pedaladas, a Lava Jato e outras de nossas jabuticabas começam a ser tão famosos quanto nosso futebol e nossa Olimpíada.

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