A família de Santos Dumont
Todo brasileiro aprende desde a infância que Alberto Santos Dumont é o “Pai da Aviação”. Foi ele de fato quem voou em público pela primeira vez num aparelho mais pesado que ar, batizado 14-Bis, em 1906, diante de uma multidão reunida em Bagatelle, na França.
Não foi mais que um salto de pouco mais de 60 metros, a 3 metros do solo, mas tratou-se sem dúvida de um grande feito: pela primeira vez um aparelho mais pesado que o ar levantava voo por propulsão própria, algo que muitos estudiosos consideravam impossível.
Todo brasileiro aprende desde a infância que Alberto Santos Dumont é o “Pai da Aviação”. Foi ele de fato quem voou em público pela primeira vez num aparelho mais pesado que ar, batizado 14-Bis, em 1906, diante de uma multidão reunida em Bagatelle, na França.
Não foi mais que um salto de pouco mais de 60 metros, a 3 metros do solo, mas tratou-se sem dúvida de um grande feito: pela primeira vez um aparelho mais pesado que o ar levantava voo por propulsão própria, algo que muitos estudiosos consideravam impossível.
Dois anos mais tarde, em 1908, os irmãos Wright ? que haviam voado em segredo nos Estados Unidos três anos antes de Santos Dumont ? revelaram ao mundo o seu próprio invento. A partir desse momento, os Estados Unidos foram apropriando-se progressivamente da primazia na invenção da aviação. Logo instaurou-se uma polêmica, pois o voo dos Wright em 1903 tivera como testemunhas apenas duas ou três pessoas da intimidade dos aviadores e a propulsão inicial era dada por uma catapulta.
Mas não há duvida que os irmãos Wright tenham aperfeiçoado muito seu aparelho nos anos seguintes, e mesmo antes de 1906 estavam fazendo voos bem mais longos.
Uma diferença fundamental entre Santos Dumont e os irmãos Wright influenciou decisivamente a repercussão de seus aparelhos. O brasileiro era um homem muito rico, que decidira não patentear seus inventos. Os Wright esperavam ganhar fortunas com seus aeroplanos. Por isso, apavorados com o risco que lhes roubassem suas descobertas, fizeram a maior parte dos voos em absoluto segredo.
O fato é que até hoje há um escandaloso desequilíbrio na maneira com que a história é contada nos Estados Unidos. Santos Dumont sempre representou a principal ameaça à primazia dos irmãos Wright – que tanto orgulho suscita nos americanos ? e por isso sua atuação foi sendo intencional e progressivamente minimizada nos livro de história da aviação e nas enciclopédias americanas.
É gritante como encolhem as menções a seu nome e à sua carreira dos anos 1920 ? quando todos nos Estados Unidos reconheciam a sua importância, ? até 1960, quando Santos Dumont desaparece ou é apenas citado como curiosidade.
Tudo indica ter ocorrido essa progressiva eliminação por determinação e planejamento do museu Smithsonian, encarregado de zelar pela construção e solidificação dos mitos americanos.
Não há como contestar o extraordinário mérito dos irmãos Wright, mas no enorme e fabuloso museu da aviação de Washington há cinco salas dedicadas a eles, inclusive com uma reprodução em tamanho natural de seu primeiro aeroplano, e Santos Dumont aparece na sexta ou sétima sala num painelzinho junto ao primeiro homem a voar no México!
Essa polêmica foi até motivo de tensões diplomáticas, a ponto de o Presidente Bill Clinton, em visita oficial ao Brasil, referir-se aos méritos de Santos Dumont para amenizar os ânimos.
Polêmicas à parte, o brasileiro era já famosíssimo quando efetuou em 1906 o primeiro voo com o 14-Bis, pois em 1901 havia logrado outra façanha que parecia impossível: até então os balões seguiam uma rota incontrolável e Santos Dumont dirigiu um balão e conseguiu imprimir-lhe movimentos precisos .
Nessa época, o futuro da aviação parecia residir na dirigibilidade dos balões. Por isso, quando Santos Dumont ganhou em 1901 o prêmio de 100.000 francos criado para quem conseguisse pela primeira vez dar a volta a Torre Eiffel, provando que um balão podia ser controlado, seu feito foi recebido como o maior avanço da navegação aérea até então. Santos Dumont tornou-se imediatamente tão famoso mundialmente como foram mais tarde Pelé ou Ayrton Senna. Foi a primeira celebridade mundial brasileira e sua fama permaneceu intensa por mais de 20 anos.
Em 1907 aperfeiçoou o famoso monoplano Demoiselle (um antepassado próximo dos atuais ultraleves) que o aviador também não patenteou. Ao contrário, preferiu publicar em várias revistas e jornais a planta do avião, para que qualquer um pudesse copiá-lo.
Homem solitário, cujos afetos parecem ter se resumido aos membros de sua família, especialmente ao sobrinho Jorge Dumont- Vilares, Santos Dumont suicidou-se em julho de 1932.
Três anos antes, solicitado por uma dama da sociedade a deixar sua contribuição num álbum de autógrafos, fez o desenho aqui reproduzido, que mostra o que considerava suas três principais invenções: o balão dirigível, o 14-Bis e o Demoiselle. Intitulou-os no desenho: “Dirigível, Monoplano e Biplano, minha família”.
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