A indústria mineira e o impeachment
Olavo Machado Junior, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, tem enfrentado dois graves problemas nos últimos tempos: a pressão de vários sindicatos ligados à Fiemg para que apoie o impeachment da presidente Dilma Rousseff, e a desesperadora situação por que passa a indústria de seu estado, bem como a de todo país, com fechamento de empresas e drásticos cortes de pessoal. Machado prefere concentrar suas forças em buscar saídas para a segunda questão. Para ele, o impedimento, no centro das discussões de federações coirmãs, como as do Rio de Janeiro, Paraná e sobretudo São Paulo – que, na figura de Paulo Skaf, vem capitaneado uma ostensiva campanha pelo impeachment já –, não deveria estar na ordem do dia das representações de classe. “Não acho que nosso papel seja se manifestar sobre o impeachment. Isso pode ser feito num plano pessoal e privado. Qualquer empresário pode ir à rua protestar contra o governo e contra a presidente. Mas a Fiemg e todas as outras federações da indústria, enquanto entidades de classe, não deveriam se imiscuir no assunto.”
Sua avaliação é de que Dilma Rousseff, apesar de todos os erros que cometeu, foi eleita legitimamente. “Se não gostam do governo dela, devem retirá-la pelo voto”, ele argumenta. E discorda por completo da postura do presidente da Fiesp. “Não acredito que o Paulo Skaf esteja falando em nome do interesse das indústrias e do país”, afirma. “Ele fala em nome de um projeto político pessoal. Todos nós sabemos de sua ligação com o PMDB e de sua determinação em tentar se projetar politicamente. Tanto que concorreu às eleições para o Governo de São Paulo.” Ele fez sua crítica à postura da entidade paulista durante um jantar em Belo Horizonte, mantendo sempre o tom de voz calmo característico dos mineiros. “Não acho que o papel das federações seja fazer política. Isso é com o Congresso”, reiterou.
Sua avaliação é de que as federações que agora se queixam do governo não tiveram o mesmo ímpeto em pressionar o Congresso para evitar a criação de 39 partidos – segundo ele, uma das principais razões para a dificuldade de governança da presidente Rousseff. Na semana em que algumas federações, sob a liderança de Skaf, publicaram um anúncio ostensivo nos jornais pedindo o impeachment da presidente, Machado foi pressionado por alguns de seus sindicatos para segui-las. Ele se recusou. “Não faço isso. Acho absurdo. Assim como é absurdo ir para a frente da casa dos deputados para constrangê-los. Isso não é papel da nossa federação. Nosso papel é discutir os problemas da indústria, nossas necessidades, pressionar o Congresso contra a alta de imposto, contra políticas econômicas erradas, mas não pressionar os deputados pelo impeachment.”
Não que ele goste do governo. Pelo contrário. Afirma que a crise em que o país se meteu foi provocada unicamente pelas políticas erradas do Executivo. E a crise econômica é o que realmente o preocupa. Minas têm sofrido bastante: seja por sua forte dependência da indústria mineradora, hoje no bagaço devido à queda violenta do preço do minério de ferro no mercado internacional, seja pelo envolvimento de algumas empreiteiras mineiras na Lava Jato. Na semana do jantar, ele havia se reunido com Murilo Mendes, dono da Mendes Júnior, que lhe disse que, dos 14 mil empregados da empresa, restaram 66. Ao sinal de um comensal, que o aconselhava a se calar, ele reagiu com calma. “Precisamos ser francos e falar deste assunto. Nossa indústria está se desmontando”, disse.
A falta de estratégia do governo para o país o inquieta. As empresas que hoje estão perdendo espaço no mercado internacional devido à crise só irão se recuperar depois de anos. Para disputar o mercado internacional, é preciso tempo: não é de uma hora para outra que isso acontece. Seu diagnóstico é que, quando a crise tiver sido superada, a indústria brasileira estará em condições muito inferiores para competir com o mercado externo, tanto lá fora como aqui dentro. E essa fragilidade se replica na sociedade. Machado cita especificamente o caso das classes D e E que ascenderam à classe C durante o governo do PT, graças a políticas de crédito barato. “O que mais me incomoda é que as classes mais pobres ascenderam à classe média sem dívidas. E agora elas retornam às classes D e E endividadas, sem emprego, sofrendo com a alta da inflação e da crise. Isso é dramático e ninguém parece estar se dando conta.”
O presidente da Fiemg está tão angustiado com a crise que já alertou o pessoal do Sebrae, que orienta pequenos e médios empresários, a desestimular candidatos a empreendedores com mais de 50 anos a colocar todas as suas economias na abertura de um negócio. “Não é momento de se fazer isso. Um negócio que dá errado leva cerca de trinta anos para se reerguer. Portanto, uma pessoa de 60 anos que arriscou todo a sua poupança num novo negócio pode correr o risco de só vir a colher resultados aos 90. Isso não faz sentido”, ele disse.
Por fim, Machado retomou a questão que mais o afeta diretamente: a indústria mineira. Quando o mercado internacional está bem, ele diz, estamos ótimos. Somos os primeiros a nos beneficiar da alta do preço do aço e do minério. Agora, como está tudo em baixa, somos os primeiros a sofrer. “Sinceramente, tentar discutir com meus pares uma solução para esses gigantescos problemas é o que realmente me mobiliza no momento”, disse. “Que cada indivíduo tome sua decisão de se manifestar contra ou a favor impeachment. No que depender de mim, a Fiemg não vai levantar esta bandeira.”
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