A noite e o dia de Garcia Lorca

Grande poeta e dramaturgo, Federico Garcia Lorca era, já em vida, reconhecido como o autor espanhol mais representativo do modernismo.

Sua execução, no início da Guerra Civil, suscitou a indignação dos intelectuais do mundo inteiro e fez com que o escritor, de apenas trinta e oito anos, se tornasse imediatamente quase lendário.

Na década anterior, ainda muito jovem, uma carreira fulgurante o havia levado aos Estados Unidos e à América do Sul para séries triunfais de conferências e leituras públicas de suas obras. Amigo íntimo de Salvador Dali, Lorca foi também um desenhista notável, bastante influenciado pelo Surrealismo.

Durante suas diversas estadas em Buenos Aires, tornou-se próximo do casal formado por Guillermo de Torre, escritor espanhol, e a pintora Norah Borges, irmã de Jorge Luís Borges.

A carta aqui reproduzida é dirigida a Guillermo de Torre e é notável tanto pelo seu conteúdo quanto pelos dois belos desenhos a lápis de cor que a ilustram.

Lorca fala de suas últimas obras e propõe diálogos em prosa para uma revista em Madri, que Torre editava, entre os quais um texto que chama de “Diálogo de Buster Keaton”.

Diz também estar corrigindo suas provas e trabalhando incessantemente para deixar um poema “tal como ele mesmo quer estar”.

O desenho que abre a carta foi retomado algumas vezes por Lorca em outros trabalhos e foi interpretado alternadamente por estudiosos como uma máscara que cai, ou ainda o dia e a noite.

Em todo caso, é muito representativo do estilo – marcante também no desenho – do famoso escritor espanhol.

A carta termina com o desenho de um caranguejo vermelho, tema que Lorca usou pouco, talvez alguma alusão a algo que Torre devia entender.

As cartas de Lorca são muito raras no mercado, especialmente ilustradas, e seus desenhos tem sido objeto de grande interesse, não só na Espanha como no resto do mundo.