Thais,

Depois de “Bastardos inglórios”, não pretendia mais ver filmes do Quentin Tarantino. Mas deveres do ofício me submeteram a “À prova de morte”. Lançado só agora no Brasil, depois de ter sido considerado uma afronta por alguns no Festival de Cannes de 2007, o filme foi feito dois anos antes de “Bastardos inglórios”. "> “À prova de morte” e a crítica - revista piauí
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“À prova de morte” e a crítica

Thais,

Depois de “Bastardos inglórios”, não pretendia mais ver filmes do Quentin Tarantino. Mas deveres do ofício me submeteram a “À prova de morte”. Lançado só agora no Brasil, depois de ter sido considerado uma afronta por alguns no Festival de Cannes de 2007, o filme foi feito dois anos antes de “Bastardos inglórios”. 

| 16 jul 2010_08h20
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Thais,

Depois de “Bastardos inglórios”, não pretendia mais ver filmes do Quentin Tarantino. Mas deveres do ofício me submeteram a “À prova de morte”. Lançado só agora no Brasil, depois de ter sido considerado uma afronta por alguns no Festival de Cannes de 2007, o filme foi feito dois anos antes de “Bastardos inglórios”.

Já viu? Gostou? Espero que não. Segundo um crítico americano, seria uma homenagem ao cinema “trash”. A meu ver, é só lixo mesmo, produzido por um hábil manipulador, dedicado a explorar os baixos instintos da platéia. Lembra da carta que mandei para você em dezembro? (leia aqui). O que escrevi daquela vez sobre “Bastardos inglórios” vale para “À prova de morte”.

Nos Estados Unidos, há um crítico que considera Quentin Tarantino um “connoisseur”, um “scholar” e um pensador sofisticado. Pode até ser, mas não vejo nada que o comprove, nem em “À prova de morte”, nem em “Bastardos inglórios”. Ele é um bom diretor, e filma muito bem, sem dúvida. Domina como poucos a linguagem do cinema. O que falta é valor intelectual.

A esta altura, você deve estar se perguntando por que então estou me dando ao trabalho de comentar o filme. Foi a página de “O Globo” de ontem que me fez escrever para você,  depois de tanto tempo. Leu? O que achou? O Marcelo Janot, ao menos, critica “À prova de morte”, embora a meu ver pelo motivo errado. Ao contrário do que ele escreve, o filme não seria melhor se fosse um curtametragem. O problema não está na duração. Menos lixo não faria diferença, continuaria a ser lixo. Quanto ao Rodrigo Fonseca, não encontro uma só frase que justifique por que ele gosta tanto do filme. Minha impressão é que aprecia “cardápios picantes” e o que chama de “as fêmeas de Tarantino” – “cocotas de shortinho e bermudinha esfiapada”, “vespas cujo ferrão está na saliva”. É um direito dele, mas não parecem propriamente predileções cinematográficas.

Como se não bastasse o desperdício de espaço do Segundo Caderno, ainda por cima a Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro promoveu ontem um debate sobre “À prova de morte”. Espero que você não tenha ido. Fiquei imaginando almas penadas enfrentando a chuva, atraídas por um jornalismo que confunde crítica com relações públicas. Nem a mediocridade da programação do circuito comercial justifica uma cobertura como essa.

A página de “O Globo” e o debate de ontem apenas comprovam que ser crítico de cinema continua melancólico, como Paulo Emílio escreveu em 1963 em texto citado no post de sexta-feira passada (leia aqui).

         Beijo,

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         Eduardo