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A última ópera do Imperador

Quando o jovem compositor Carlos Gomes, nascido em Campinas, conseguiu, em 1870, fazer representar em Milão, no famoso teatro Scala, uma ópera de tema brasileiro composta por ele intitulada O Guarani (e inspirada no romance de José de Alencar), aquela prestigiosa inserção do Brasil na mais fechada cena cultural europeia foi comemorada pelo Imperador com grande entusiasmo.

A partir desse momento, sempre que pôde, o Imperador protegeu Gomes, que também se ligará a um grande amigo de D. Pedro II, o Visconde de Taunay. O compositor baseou o argumento de sua penúltima ópera, intitulada Lo Schiavo (O Escravo), sobre uma obra de Taunay.

| 11 jun 2013_16h10
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No tempo de D. Pedro II, o Brasil tinha pouco peso no conjunto das nações. Numa época em que as viagens eram longas e difíceis, o país era distante demais e as notícias que chegavam à Europa eram sempre fragmentárias, quando não caricaturais.

D. Pedro II só pôde conhecer o Velho Continente após os 40 anos, quando a princesa Isabel finalmente teve idade para substituí-lo como regente durante suas três longas viagens ao exterior, nos anos 1870 e 1880. O Imperador havia sido educado na língua francesa e vivia no Brasil a vida intelectual de uma Europa que tardou muito em conhecer pessoalmente.

Talvez por isso, qualquer presença ou vitória brasileira no exterior, por menor que fosse, assumia para ele uma importância descomunal e o enchia de orgulho.

Quando o jovem compositor Carlos Gomes, nascido em Campinas, conseguiu, em 1870, fazer representar em Milão, no famoso teatro Scala, uma ópera de tema brasileiro composta por ele intitulada (e inspirada no romance de José de Alencar), aquela prestigiosa inserção do Brasil na mais fechada cena cultural europeia foi comemorada pelo Imperador com grande entusiasmo.

A partir desse momento, sempre que pôde, o Imperador protegeu Gomes, que também se ligará a um grande amigo de D. Pedro II, o Visconde de Taunay. O compositor baseou o argumento de sua penúltima ópera, intitulada Lo Schiavo (O Escravo), sobre uma obra de Taunay.

Mas as frustrações do queixoso Carlos Gomes eram frequentes, e muitas vezes achava-se incompreendido pelo Imperador, de quem esperava apoio e admiração ainda maiores que os que Pedro II frequentemente lhe manifestava.

A breve carta reproduzida nesta página é dirigida a outra figura muito próxima do Imperador, sobretudo no final de sua vida: seu médico particular Claudio da Mota Maia, que Pedro II havia elevado à dignidade de Conde de Mota Maia. O Dr. Mota Maia acompanhou o Imperador nas últimas viagens e conhecia bem Gomes.

Lo Schiavofoi representada pela primeira vez no teatro D. Pedro II no Rio de Janeiro em 27 de setembro de 1889, com patrocínio do Imperador. Mas as apresentações seguintes da ópera exigiram mais ensaios.

Querendo transmitir a D. Pedro o bom andamento do espetáculo, Gomes escreve ao Conde de Mota Maia:

“Cumpro o dever de participar a V. Exa. que os ensaios do Escravo estão relativamente em bom ponto e que o ensaio geral – vistos desejos da empresa – poderá ter lugar na noite de quinta-feira, 26 do corrente.

Faço esta participação a V. Exa. para cumprir o meu dever e pedir a V. Exa. que faça constar as Suas Majestades Imperiais”.

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Gomes evita dirigir-se diretamente ao Imperador e pede que seu médico lhe dê o recado de que correm bem as representações da ópera da qual D. Pedro II é o patrono.

O que chama a atenção na carta é sua data, 24 de outubro de 1889, apenas três semanas antes da Proclamação da República.

D. Pedro II e a Imperatriz Tereza Cristina (as “Majestades Imperiais” citadas na carta) haviam assistido in extremis à primeira representação da ópera, em 27 de setembro, talvez o último espetáculo a que tenham comparecido no Brasil, pois embarcaram para o exílio no dia 17 de novembro de 1889.

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