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Almeidinha

Hamilton de Holanda lembra um Jimi Hendrix do bandolim – explora o instrumento inteiro, produz nele sons inusitados, transforma-o em outra coisa

Paulo da Costa e Silva | 21 dez 2015_16h53
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Às vezes tenho a impressão de que Hamilton de Holanda é o maior instrumentista brasileiro. Na semana passada fui ao “Baile do Almeidinha”, no Circo Voador, e tive a alegria de ouvir parte da nata de nossa música popular girando na órbita de seu bandolim. Ia de João Bosco e Leila Pinheiro à Julia Vargas e Roberta Sá, Marcos Suzano, Alcione, Arlindo Cruz, Gabriel Gross e Yamandú. Hamilton é um anfitrião excepcional. Embarca na onda dos convidados com generosidade, mas continua exercendo de modo macio a liderança do baile. Sua figura exala simpatia e simplicidade. Seu caráter musical oscila com naturalidade entre figura e fundo, ator principal e personagem coadjuvante. Foi uma farra memorável. Leila Pinheiro subiu ao palco e cantou Catavento e girassol, a pérola de Guinga e Aldir Blanc – melodia sinuosa, cheia de dobras, letra com metáforas complexas, repleta de “sumidouros” e “espelhos”. Logo depois entoou a alegria expansiva e direta de Coração em desalinho. Um pouco mais tarde foi a vez de João Bosco atacar O bêbado e o equilibrista e nela emendar Incompatibilidade de gênios. Depois, começou a cantar o meloso “lê-lê-lê-lê-ai-ai-ai-ai” de Papel machê – maravilhoso sucesso de FM; a platéia levantou os os braços e ficou se balançando de um lado pro outro.

Enquanto tudo isso acontecia, Hamilton seguia atentamente os passos de seus convidados. Quando Suzano brotou no palco, passou o seu bandolim para o primeiro plano, dispensou a banda e arrebatou o público com uma interpretação violenta de Canto de Ossanha. Hamilton lembra um Jimi Hendrix do bandolim – explora o instrumento inteiro, produz nele sons inusitados, transforma-o em outra coisa. Prendendo as cordas, tira do bandolim um som mais percussivo e seco, mas continua criando, no interior desse mesmo som, nuances de notas, que variam de acordo com a posição de sua mão no braço do bandolim. Em outros momentos, interpola solos intensamente melódicos com batuques na madeira do bandolim – tudo soando natural, espontâneo e alegre, sem qualquer afetação, um pouco como é o clima do baile. O que chama a atenção no bandolinista é sua imensa flexibilidade. Hamilton é um virtuoso dos climas e atmosferas, muito diferente dos “cuspidores de notas”. Suas intervenções primam pela concentração e expressividade. Parece sempre à vontade, esteja entre um baião de Sivuca, uma bossa de Jobim, um afrossamba de Baden ou um hit de FM. Nele encontramos uma compreensão rara das diversas florações da musica brasileira. Mais do que isso: encontramos um diálogo fino entre virtuosismo instrumental e a centralidade melódica que emana da canção popular, mostrando a inexistência de oposição entre os dois.

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