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As canções envelhecem?

Quero falar de uma categoria de canção específica: aquela que parece datada ou morta mas que, quando você a ouve num novo contexto ou revitalizada por um intérprete muito capaz, ganha novo frescor. É o caso de "Disparada", de Geraldo Vandré e Theo de Barros

Zeca Baleiro | 15 ago 2013_14h17
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Diz belo verso de Márcio Borges que “sonhos não envelhecem” (em Clube da Esquina nº 2, parceria com Lô e Milton). E as canções? Envelhecem?

Há canções que ficam naturalmente datadas, seja pelo tema da letra, pela estrutura harmônica ou por fatores outros, imponderáveis. E há canções que permanecem sempre frescas, passem dez ou cem anos (um mistério apaixonante do universo apaixonante das canções, sem dúvida).

Mas eu quero falar de uma categoria de canção específica: aquela que parece datada ou morta mas que, quando você a ouve num novo contexto ou revitalizada por um intérprete muito capaz, ganha novo frescor. Como não saberia dizer se há muitas canções que se encaixem nessa “categoria”, vou falar de uma especialmente.

É Disparada, a clássica canção de Théo de Barros e Geraldo Vandré. A interpretação magistral de Jair Rodrigues, que fez o público vibrar no Festival da Record de 66, ecoa em nossas cabeças quase como um jingle de tão familiar (a canção dividiu o primeiro lugar do festival com A Banda, não custa lembrar). Há algo de profundamente sessentista na canção: a atmosfera sertaneja – algo glauberiana -, a letra de caráter contestador, tão em voga naquele momento, e o próprio canto inflamado de Jair a colocam num lugar único no panteão das canções brasileiras, honroso, claro, mas um lugar também congelado pelo tempo, como se ela não fizesse mais sentido nos dias de hoje.

Recentemente ouvi duas novas versões para essa música, ambas ao vivo. Primeiro ouvi Margareth Menezes cantando-a acompanhada do violão de Diego Figueiredo, num show em que ela cantava de tudo, de Vandré a Jobim, mostrando a sua grande (e ainda mal entendida) versatilidade como cantora. Sua interpretação vinha num crescendo radical e emocionado até explodir em toda a sua intensidade no final. “Eureka!”, eu me disse. “Agora ‘entendi’ a música de fato”. Foi como se eu tivesse “lido” corretamente a música pela primeira vez (se é que se pode “ler” uma canção). Depois vi Zizi Possi cantando-a muito elegantemente, mas também com toda força e coração que a canção exige. Novo alumbramento – que canção lírica e linda e intensa e brilhante e… atual.

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