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    Eduardo Neves, ao lado da muralha, aponta para o Rio Madeira: na Amazônia, “a fronteira entre a floresta e o jardim permanece fluida”, ele escreveu em um artigo feito com Carlos Fausto CRÉDITO: BERNARDO ESTEVES_2024

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“As florestas são as nossas pirâmides”, diz arqueólogo

Eduardo Neves está ajudando a rever a história da Amazônia e seus povos ancestrais

Bernardo Esteves | 19 jul 2024_10h52
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As pesquisas do ar­queólogo Eduardo Góes Neves, da Uni­versidade de São Paulo (USP), vêm mudando a forma como se conta a história da ocupação da Amazônia. A floresta tropical costumava ser vista como um ambiente inóspito e incapaz de sustentar grandes populações, devido ao solo pobre e impróprio para a agricultura. Trabalhando com uma legião de colegas, Neves vem mostrando que, pelo contrário, a Amazônia abrigou muitos povos indígenas, foi um centro produtor e difusor de inovações tecnológicas e o berço da domesticação de dezenas de plantas que até hoje são amplamente consumidas.

A própria com­posição da floresta parece ter sido pro­fundamente influenciada pela ação dos povos que a ocuparam, relata Bernardo Esteves na edição deste mês da piauí. Cerca de metade das centenas de bilhões de árvores da Amazônia pertence a um número restrito de espécies, empregadas com uma série de finalidades pelos povos indígenas. Onde um desavisado pode en­xergar um trecho de mata virgem existe, na verdade, uma Amazônia manejada, cujas árvores foram cuidadosamente se­lecionadas ao longo de milênios para que os povos da floresta tivessem sempre à sua volta os recursos de que precisavam. Em outras palavras, a Amazônia é em grande medida cultivada. Numa bela de­finição, Neves e o antropólogo Carlos Fausto, em artigo publicado em 2018 na revista Antiquity, escreveram: “A fronteira entre a floresta e o jardim permanece fluida.”

É fácil perder de vista os séculos de co­nhecimento acumulado pelos antigos in­dígenas e mobilizado até que a floresta ganhasse as feições atuais. A invisibilidade desse engenho deriva do velho preconcei­to determinista que enxerga na Amazônia um inferno verde onde o desenvolvimen­to e a inovação não podem florescer. É também o complexo de vira-latas que entra em operação quando alguém faz pouco caso dos antigos indígenas da Amazônia por não terem construído pirâmides ou outras estruturas de pe­dra, como fizeram povos pré-colombia­nos dos Andes ou da América Central e do México. Quando alguém questiona Neves por que os indígenas da Amazô­nia não construíam pirâmides, ele cos­tuma responder o seguinte: “A floresta são as nossas pirâmides.”

 Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.

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