Eduardo Neves, ao lado da muralha, aponta para o Rio Madeira: na Amazônia, “a fronteira entre a floresta e o jardim permanece fluida”, ele escreveu em um artigo feito com Carlos Fausto CRÉDITO: BERNARDO ESTEVES_2024
“As florestas são as nossas pirâmides”, diz arqueólogo
Eduardo Neves está ajudando a rever a história da Amazônia e seus povos ancestrais
As pesquisas do arqueólogo Eduardo Góes Neves, da Universidade de São Paulo (USP), vêm mudando a forma como se conta a história da ocupação da Amazônia. A floresta tropical costumava ser vista como um ambiente inóspito e incapaz de sustentar grandes populações, devido ao solo pobre e impróprio para a agricultura. Trabalhando com uma legião de colegas, Neves vem mostrando que, pelo contrário, a Amazônia abrigou muitos povos indígenas, foi um centro produtor e difusor de inovações tecnológicas e o berço da domesticação de dezenas de plantas que até hoje são amplamente consumidas.
A própria composição da floresta parece ter sido profundamente influenciada pela ação dos povos que a ocuparam, relata Bernardo Esteves na edição deste mês da piauí. Cerca de metade das centenas de bilhões de árvores da Amazônia pertence a um número restrito de espécies, empregadas com uma série de finalidades pelos povos indígenas. Onde um desavisado pode enxergar um trecho de mata virgem existe, na verdade, uma Amazônia manejada, cujas árvores foram cuidadosamente selecionadas ao longo de milênios para que os povos da floresta tivessem sempre à sua volta os recursos de que precisavam. Em outras palavras, a Amazônia é em grande medida cultivada. Numa bela definição, Neves e o antropólogo Carlos Fausto, em artigo publicado em 2018 na revista Antiquity, escreveram: “A fronteira entre a floresta e o jardim permanece fluida.”
É fácil perder de vista os séculos de conhecimento acumulado pelos antigos indígenas e mobilizado até que a floresta ganhasse as feições atuais. A invisibilidade desse engenho deriva do velho preconceito determinista que enxerga na Amazônia um inferno verde onde o desenvolvimento e a inovação não podem florescer. É também o complexo de vira-latas que entra em operação quando alguém faz pouco caso dos antigos indígenas da Amazônia por não terem construído pirâmides ou outras estruturas de pedra, como fizeram povos pré-colombianos dos Andes ou da América Central e do México. Quando alguém questiona Neves por que os indígenas da Amazônia não construíam pirâmides, ele costuma responder o seguinte: “A floresta são as nossas pirâmides.”
Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.
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