As muitas cores de Picasso
Quando queria agradar, Picasso sabia ser sedutor, como no caso da carta reproduzida nesta página endereçada ao senhor Ascher, que morava na esquina da rua de Sena e da rua das Belas Artes em Paris, e era colecionador destacado das cerâmicas de Picasso.
Em 1953 o grande pintor, que já morava no castelo de Vallauaris , no sul da França, desejava montar uma grande exposição de seus trabalhos de cerâmica e precisava da ajuda e colaboração de Ascher.
Em sua longa vida de 92 anos, o espanhol Pablo Picasso conheceu muito cedo a notoriedade, e, ainda jovem uma fama universal. Nos anos 1920, com quarenta e poucos anos, era já o artista mais festejado de sua geração, como o continuou sendo nas mais de cinco décadas seguintes.
Os seus primeiros anos em Paris foram envolvidos com a boemia dos bairros de Montmartre e Montparnasse onde viviam seus amigos, escritores e pintores e as muitas mulheres com quem se relacionou.
Em 1917, com 36 anos contraiu o que se poderia chamar de um casamento burguês com a dançarina Olga Kolkhova, integrante dos Balés Russos de Diaghilev. A partir desse momento, Picasso residiu em casas amplas com muito espaço para guardar suas próprias telas e os muitos objetos e quadros de outros artistas que faziam parte de sua coleção privada.
Após sua morte em 1973, o estado francês recebeu seus arquivos. Os estudiosos descobriram então com espanto que, nos últimos cinquenta anos de vida, Picasso praticamente não jogara nada fora. Guardara todas as dezenas de milhares de cartas de fãs que lhe eram endereçadas, continuamente, ainda que não respondesse a nenhuma. Guardara entradas de cinema usadas, qualquer nota fiscal dos serviços que lhe prestavam, etc… Com isso, e até os mais ínfimos e irrelevantes pedaços de papel foram conservados.
Não que Picasso fosse um correspondente regular. Ao contrário, escrevia pouco e sempre textos muito curtos. Não se conhece praticamente nenhuma carta de Picasso de mais de alguns parágrafos.
Mas quando queria agradar, Picasso sabia ser sedutor, como no caso da carta reproduzida nesta página endereçada ao senhor Ascher, que morava na esquina da rua de Sena e da rua das Belas Artes em Paris, e era colecionador destacado das cerâmicas de Picasso.
Em 1953 o grande pintor, que já morava no castelo de Vallauaris , no sul da França, desejava montar uma grande exposição de seus trabalhos de cerâmica e precisava da ajuda e colaboração de Ascher.
Para tornar sua carta mais atraente, Picasso usa um lápis de várias cores.
“Meu caro Ascher,
Mando-lhe o senhor George Ramie que vem de minha parte para lhe falar a respeito da exposição de Vallauaris. Você vai ser novamente o amigo gentil que sempre é. Espero te ver em breve ou em Paris.
Todo teu, Picasso”.
Também no envelope Picasso capricha com desenhos de flechas de várias cores, transformando um papel apenas utilitário em algo próximo de uma obra de arte.
Nos últimos trinta anos com a morte de muitos de seus amigos cujas correspondências foram dispersadas, as cartas de Picasso surgiram em maior número no mercado, mas não há notícia de outra carta como esta escrita em várias cores.
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