Alexandre Allard: com seus grandes feitos e grandes confusões, ele é comparado a figuras do mesmo naipe que coloriram a cena paulistana, como Assis Chateaubriand e Edemar Cid Ferreira CRÉDITO: CLAUDIO BELLI_VALOR_AGÊNCIA O GLOBO_2021
As peripécias e atribulações do rei Allard XIV
O empresário francês que impera sobre o bilionário complexo Cidade Matarazzo
O complexo Cidade Matarazzo, projeto bilionário no segmento da hotelaria de luxo em São Paulo, é o orgulho do empresário francês Alex Allard. Em 2011, ele comprou por 117 milhões de reais (250 milhões, em valores de hoje) os 27 mil m² que, a um quarteirão da Avenida Paulista, abrigavam edificações erguidas pela família Matarazzo no início do século XX.
Ao lado de investidores que já colocaram 3,5 bilhões de reais no negócio, Allard restaurou prédios, ampliou alguns e construiu outros, na maior requalificação urbana em curso na capital paulista. No hotel Rosewood, a diária começa em quase 5 mil reais. No bar Rabo di Galo, um bolovo custa 135 reais. Na brasserie Le Jardin, paga-se 55 reais por uma fatia de bolo de fubá com goiabada.
Hoje, o complexo Cidade Matarazzo é administrado por duas empresas: a BM Empreendimentos e Participações, que controla o hotel Rosewood, e a BM Varejo Empreendimentos, responsável pela gestão do resto do complexo. Por trás disso, há uma guerra. Para construir o hotel, Allard fechou um acordo com o grupo chinês Chow Tai Fook, que é dono da marca Rosewood.
No começo, o francês tinha 65% do negócio. Os chineses, 35%. Nos últimos anos, a proporção se inverteu, com a Chow Tai Fook abocanhando 65% das ações. Nesse processo, Allard e os chineses aprenderam a nutrir um ódio mútuo, temperado por acusações que incluem até denúncias de espionagem, informa João Batista Jr. na edição deste mês da piauí.
O empresário diz que usa o dinheiro gerado pelo mercado de luxo para aplicar em economia inclusiva, sustentabilidade e diversidade. Afirma que quer “salvar a Amazônia”, aonde vai periodicamente, desde que se tornou usuário da ayahuasca, a bebida alucinógena e sagrada dos povos originários. Entretanto, os cuidados ambientais são precários no hotel Rosewood, que não tem programa de separação de resíduos em nenhum de seus bares ou restaurantes. “Nunca a chefia deu qualquer instrução sobre lixo. Isso é um não assunto lá dentro”, diz o funcionário de um dos bares.
Allard também diz que adora o Brasil, mas costuma usar o termo “Macacoland” para se referir ao país, segundo uma executiva que trabalhou com ele. “Ele criou um projeto de revitalização e reurbanização extraordinário, mas trata o Brasil como se fosse um país de quinta”, diz outro executivo que também deixou a empresa.
Ex-funcionários relatam casos de assédio da parte de um sócio de Allard, o colombiano Alexander Marsh Thomson Payán. E duas ex-executivas do Cidade Matarazzo acusam o próprio francês de comportamento inadequado. Ele nega qualquer agressão e diz que está aprendendo com o comportamento do brasileiro.
O Rosewood, inaugurado em janeiro de 2022, é um sucesso. Já hospedou celebridades e virou um polo de festas corporativas. O Bradesco fechou negócio de 125 milhões de reais para ter o direito de colocar seu nome na galeria de arte. Em novembro que vem, a cantora Giulia Be, filha do ex-bolsonarista Paulo Marinho, fará ali a festa do seu casamento com Conor Kennedy, filho de Robert Kennedy Jr., secretário de Saúde dos Estados Unidos que não acredita na ciência nem na pesquisa médica.
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