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    Da esquerda para a direita, Fernando de Barros e Silva, José Luis Pardo, da Dromómanos, e Bernardo Mello Franco, de O Globo: mesa no festival piauí de jornalismo tratou de jornalismo e autoritarismo Foto: Marcelo Saraiva

festival piauí de jornalismo

Autoritarismo e narcotráfico na mira do jornalismo

Produtora Dromómanos investe em parcerias com veículos da América Latina para investigar temas da região

| 03 dez 2022_17h36
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A mexicana Alejandra Inzunza e o espanhol José Luis Pardo são um casal de jornalistas. Em 2011 mudaram-se da Espanha com a intenção de percorrer de carro o continente americano, reportando os desafios sociais de países da região. Foi assim que surgiu a Dromómanos (que significa impulso incontrolável por viajar), uma produtora de projetos jornalísticos para investigações em profundidade. O casal percorreu 18 países. Dessas viagens surgiram livros e reportagens sobre temas persistentes na região, como narcotráfico e autoritarismo.  

Palestrante da terceira mesa do Festival piauí de Jornalismo, Inzunza testou positivo para Covid e ficou impossibilitada de participar. Foi substituída por Pardo, cujo teste deu negativo. Na conversa mediada por Fernando de Barros e Silva, da piauí, e Bernardo Mello Franco, colunista de O Globo, Pardo falou sobre os riscos de cobrir o narcotráfico na região.  

“No México, assassinam jornalistas com frequência. Só nesse ano morreram doze. Antes de adentrar um território desconhecido e dominado pelo narcotráfico é preciso ler sobre o país e a realidade local para evitar erros. Depois, conversar com pessoas que saibam mais do que nós sobre aquela realidade: jornalistas, acadêmicos, pessoas da sociedade civil que conheçam bem o território”, disse Pardo. “E revelar ao leitor aquele universo que ele desconhece. Para isso, é necessário evitar a tentação do sensacionalismo. Mais importante do que ouvir quem aperta o gatilho e mata é saber quem está por trás dele comandando tudo.“ 

Os jornalistas que usaram um carro como redação jornalística não abrem mão de fazer um jornalismo em profundidade. O objetivo da Dromómanos é apresentar contexto e análises que permitam ao leitor enxergar as nuances de temas complexos como o tráfico de drogas, evitando abordagens rasas que se fixam na exploração da violência.  “A gente nunca cai de paraquedas num território e nem paga fixer (espécie de produtor local) para nos guiar num local dominado pelo tráfico. Isso não é jornalismo. É preciso ir com calma, conhecer pessoas, falar com muitas fontes e evitar a pornoviolência, que só reflete a violência e não aprofunda. Essas pautas precisam de um filtro que refine a informação”, disse Pardo. 

Pardo é co-autor, com Inzunza, do livro Narcoamérica: de Los Andes a Manhattan, 55 Mil Kilómetros Tras El Rastro de la Cocaina,  com o relato da viagem.  Também integrou o projeto Aquí Mando Yo, que investiga o autoritarismo na América Latina e teve parceria de vários veículos da região, entre eles a piauí. Pardo afirmou que o autoritarismo se espalha entre países latino-americanos pela fragilidade da democracia, que não chega para a maior parte da população. “É muita gente excluída do contrato social. E essa exclusão se dá com base em poder econômico e identidade: pobres, indígenas e negros. Ele diz também que esse autoritarismo busca cercear o exercício democrático do jornalismo.  “Em Honduras, por exemplo, a ex-presidente está na cadeia por tráfico de drogas. Governos e sistemas de justiça assediam quem decide investigar o poder público. Tem também a perseguição de traficantes. O jornalista pode acabar na cadeia ou exilado”, disse Pardo.  

O jornalista da Dromómanos afirmou que países latinos podem ter governos autoritários com ideologias distintas, mas há pontos em comum entre eles:  “São capazes de canalizar o desencanto das pessoas. Seja Obrador (no México), Bolsonaro (no Brasil), Ortega (na Nicarágua), em comum eles têm o populismo no sentido mais limitado da palavra. Sabem falar com o povo, sobretudo num momento em que há uma ruptura do população com as instituições estabelecidas.” Pardo disse ainda que a produtora busca parceria com outros veículos independentes e financiamento com ONGs como a Open Society, de George Soros. “Com o enfraquecimento da mídia tradicional, acreditamos que o conteúdo faz a  diferença. Produzimos conteúdo com profundidade e distribuímos. E ficamos com os direitos autorais sobre este conteúdo que depois podemos negociar com a Netflix ou podcast.”

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