Brasil queimou quatro Reinos Unidos de vegetação nativa

Nos últimos vinte anos, o fogo já queimou quase 18% do Brasil. Ao todo, foram 1,5 milhão de quilômetros quadrados atingidos pelas chamas e a maior parte dessa área correspondia à vegetação natural dos biomas brasileiros. Na Caatinga, por exemplo, mais de 80% da área queimada em 2019 correspondia a esse tipo de cobertura vegetal. O saldo dos últimos vinte anos de fogo são quatro Reinos Unidos de vegetação nativa queimados no país – cerca de 1 milhão de quilômetros quadrados. Apenas 32% da área atingida correspondia a territórios de uso antrópico, como agricultura e pastagem. E nada indica que esse quadro está sendo revertido: segundo o relatório do MapBiomas, divulgado na última semana, houve um aumento significativo da área de vegetação natural queimada em 2019.

No ano passado, a devastação foi proporcionalmente maior nas áreas de vegetação nativa em praticamente todos os biomas. Na Amazônia, onde o fogo não é um fenômeno natural e as queimadas estão relacionadas à ação humana, as queimadas em coberturas florestais e campestres correspondem a mais da metade da área atingida pelo fogo. No Pampa e no Pantanal, mais de 90% da área queimada em 2019 correspondia à vegetação natural. Ao que tudo indica, esse cenário tende a piorar nas próximas análises, já que o relatório dos pesquisadores não levou em conta as queimadas deste ano. Até novembro, a área queimada no Pantanal dobrou em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. 

A Mata Atlântica foi o único bioma onde a maior parte da área queimada não correspondia à vegetação nativa. Na verdade, mais de 37% do território atingido pelo fogo no bioma era utilizado somente para agricultura. Vale lembrar que este é o bioma brasileiro mais devastado e é o ecossistema que mais sofreu alterações com a ocupação humana. Atualmente, apenas 8% da cobertura vegetal original da Mata Atlântica ainda está de pé. 

Camille Lichotti

É repórter da piauí

Renata Buono

É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno