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Carla Zambelli estava na casa de brasileira nos arredores do Vaticano

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Carla Zambelli estava na casa de brasileira nos arredores do Vaticano

A deputada foi localizada pela polícia no início da noite de terça-feira (29), em Roma

Andrea Palladino, de Ferrara (Itália) | 29 jul 2025_16h50
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A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi encontrada pela polícia italiana em Roma. Ela estava vivendo no sexto andar de um prédio nos arredores do Vaticano, na casa de uma brasileira. Agentes da Digos (Divisione Investigazioni Generali e Operazioni Speciali) conduziram-na nesta terça-feira (29) até uma delegacia para tomada de informações, quando já era noite na capital italiana. O Ministério da Justiça brasileiro afirma que Zambelli foi presa e será submetida a um processo de extradição.

A polícia vinha seguindo pistas de que a deputada estava em outras cidades italianas. Em junho, investigaram a presença dela em Scafati, uma comuna nos arredores de Nápoles, no Sul do país. Os policiais tinham recebido a foto de uma mulher parecida com Zambelli que compareceu a um culto de uma igreja da Assembleia de Deus naquela região. Depois de cruzar informações de inteligência, no entanto, concluíram que se tratava de outra pessoa.

O deputado italiano Angelo Bonelli, do partido Europa Verde, diz ter sido o responsável por passar à polícia o verdadeiro endereço de Zambelli. O prédio em que a deputada foi encontrada fica em uma região de classe média alta no Oeste de Roma, onde o aluguel de um imóvel de 80 m² gira em torno de 1,5 mil euros (quase 10 mil reais). Segundo os investigadores, a dona do apartamento é uma empreendedora do Rio de Janeiro.

Zambelli estava foragida desde o começo de junho, quando o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou sua prisão preventiva. A deputada havia sido condenada, em maio, a dez anos de prisão e à perda do mandato por ter contratado um hacker para invadir e inserir documentos falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Antes que Moraes expedisse o mandado de prisão, Zambelli viajou para a Argentina, depois de lá para os Estados Unidos e, por fim, se instalou na Itália, acompanhada do marido e munida de documentos que atestam sua cidadania italiana. Naquela mesma semana, ela foi incluída na lista de criminosos procurados da Interpol.

A piauí apurou que, quando chegou à Itália, Zambelli morou por um tempo na casa de um parente de seu marido, o coronel reformado da PM Antônio Aginaldo de Oliveira. A casa fica em Cecchina, cidade a cerca de 30 km de Roma, na região do Lácio. Depois, a deputada se mudou para Roma. Os policiais, no entanto, descobriram que ela vinha planejando trocar de endereço novamente. Recentemente, havia viajado para Siena.

Em entrevista concedida à GloboNews na segunda-feira (28), o advogado Fábio Pagnozzi, que representa Zambelli, afirmou que a deputada aguardava apenas um pedido formal das autoridades italianas para se apresentar à polícia. Enquanto isso, ela seguia ativa nas redes sociais, por meio de uma nova conta que criou meses atrás no Instagram, driblando a decisão de Moraes que havia ordenado a exclusão de seus perfis. Nas postagens, a deputada se referia à sua permanência na Itália como um “exílio” e proferia ataques contra o STF.

Em nota divulgada nesta terça-feira (29), os advogados Fábio e Pedro Pagnozzi disseram que Zambelli não foi presa, mas se apresentou à polícia, reforçando “sua inequívoca disposição em colaborar com as autoridades”. A dupla também afirmou não ser necessário um processo de extradição, já que, segundo eles, a deputada “sempre esteve à disposição para os esclarecimentos necessários”. Uma nota publicada pelo Ministério da Justiça, no entanto, afirma que o governo dará início, sim, às tratativas para a extradição. Ainda não há previsão de quando isso acontecerá.

O Ministério diz ter recebido no dia 11 de junho o pedido de extradição enviado pelo Supremo. Depois de passar por uma análise legal, a documentação foi remetida para o Itamaraty, que cuidou de fazer a ponte com as autoridades italianas. Agora, cabe ao governo daquele país enviar o pedido de extradição para o tribunal competente, que decidirá então o destino de Zambelli.

Embora a deputada tenha sido condenada a perder o mandato, cabe à Câmara analisar sua cassação. Ainda em junho, o presidente da Casa, deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), encaminhou para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) o processo sobre Zambelli. A análise de sua cassação, contudo, ainda não foi concluída. Se for aprovado pela comissão, o processo será encaminhado para votação no plenário da Câmara. Motta, ao saber da prisão de Zambelli, se limitou a dizer que dará “cumprimento regimental” ao processo de cassação, obedecendo ao rito.

Zambelli, de 45 anos, ganhou notoriedade como militante antipetista nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2015 e 2016. Alinhada com a candidatura vitoriosa de Jair Bolsonaro em 2018, ela se filiou ao PSL, partido que reunia a tropa de elite do bolsonarismo, e se elegeu deputada federal por São Paulo. Tornou-se uma das principais porta-vozes do então presidente e gozava de prestígio no Palácio do Planalto.

Em 2022, conseguiu se reeleger com a segunda maior votação do estado de São Paulo e a terceira maior do país – cerca de 950 mil votos. Mas caiu em desgraça no bolsonarismo quando, a dias do segundo turno daquela eleição, foi filmada apontando uma arma para um jornalista com quem tinha discutido no bairro dos Jardins, em São Paulo. A cena, que mostra a deputada perseguindo o homem com arma em punho, viralizou e se tornou uma vidração na campanha de Bolsonaro, que sempre defendeu uma liberação mais ampla do porte de armas de fogo.

O ex-presidente e seu entorno nunca perdoaram Zambelli, a quem culparam pela derrota para Lula. “A Carla Zambelli tirou o mandato da gente”, disse Bolsonaro numa entrevista recente a um podcast. Por causa daquele episódio, Zambelli também responde a um processo no STF pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal. O julgamento foi iniciado em março, no plenário, e os ministros já formaram maioria pela condenação da deputada. A votação, contudo, ainda não foi concluída.

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