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Cédula de conclave sobrevive por milagre

Os conclaves, reuniões fechadas dos cardeais no Vaticano para eleger um novo Papa, fizeram sempre parte do imaginário coletivo como eventos dos mais secretos, misteriosos e fascinantes. Acredita-se que o nome do eleito seja finalmente soprado aos eleitores pelo Espírito Santo, mas, antes que isso aconteça, supõe-se que prosperem as mais diversas intrigas para promover ou derrubar certos favoritos.

| 24 jul 2012_16h52
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Os conclaves, reuniões fechadas dos cardeais no Vaticano para eleger um novo Papa, fizeram sempre parte do imaginário coletivo como eventos dos mais secretos, misteriosos e fascinantes. Acredita-se que o nome do eleito seja finalmente soprado aos eleitores pelo Espírito Santo, mas, antes que isso aconteça, supõe-se que prosperem as mais diversas intrigas para promover ou derrubar certos favoritos.

As dezenas de prelados vindos de todos os países são trancados a sete chaves, e podem circular apenas de seus aposentos para a sala onde realizam-se as votações, a famosa Capela Sistina (na qual os cardeais não podem deixar de ser também inspirados pelos magníficos afrescos de Michelangelo…). O isolamento do mundo é total, e somente após terem escolhido entre eles um nome que recolha dois terços dos sufrágios, termina a clausura. Sempre suscitou grande interesse o procedimento secular adotado após cada escrutínio. Se for inconclusivo, queimam-se todos os votos misturando-os a palha molhada. Isso produz uma fumaça negra que sai pela chaminé , indicando para a multidão aglomerada na imensa Praça de São Pedro que não houve consenso. Quando o nome de um cardeal obtém a maioria necessária, queima-se os votos do último escrutínio com palha seca, que produz finalmente uma fumaça branca .O cardeal-diácono mais velho anuncia então ao povo exultante " Habemus Papam" (Temos Papa!) .Esse processo de eleição tornou-se célebre mesmo entre os não-católicos desde o século XVI ,quando essas normas se consolidaram.

Neste contexto, o papel reproduzido nesta página é de especial interesse. Trata-se do original de uma cédula impressa preparada para recolher os votos dos cardeais no conclave de 1846, durante o qual foi eleito o cardeal Giovanni Mastai-Ferretti, que escolheu reinar com o nome de Pio IX. A sobrevivência de tais formulários é altamente improvável, pois para manter o total sigilo que juram respeitar, os cardeais se comprometem a destruir todos os documentos pertinentes ao conclave. Se estivesse em branco, poderia tratar-se apenas de uma cédula não utilizada e guardada por descuido por algum cardeal. Mas, neste caso, a cédula está preenchida a lápis por um cardeal presbítero que se identifica como Spinola, e que escolhe como seu candidato justamente o cardeal Mastai-Ferretti, que foi de fato eleito.

Ugo Pietro Spinola tinha 55 anos e era o décimo-terceiro cardeal da ilustre família Spinola. Pio IX, eleito aos 54 anos acabou tendo o mais longo reinado de todos os tempos, pois só morreu em 1878, tendo permanecido como Papa por 32 anos, recorde absoluto desde São Pedro.

Por que milagre deixou de ser queimado, juntamente com os outros, este voto do conclave de 1846? Teria se tratado apenas de um rascunho do cardeal Spinola, que escreveu depois, a tinta, noutra cédula seu voto definitivo, ou teria sido um voto definitivo preenchido a lápis, que o cardeal por alguma razão deixou de depositar na urna, da qual só sairia queimado?

Em todo caso, trata-se de um documento raríssimo e de grande significado para a história da igreja católica. Fez parte de uma coleção alemã até o início deste século, quando foi adquirido por seu atual detentor.

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