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    Marco Ricca interpreta Assis Chateaubriand

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Chatô – a vitória do diretor Guilherme Fontes

Depois da via-crúcis de 21 anos do projeto, apesar de compreensível, a necessidade de extravasar dificulta que o filme Chatô seja visto por si mesmo e apreciado por seus próprios méritos.

| 18 nov 2015_12h30
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O diretor Guilherme Fontes venceu a batalha. A impressão que o filme Chatô causa é essa. Fontes insiste, porém, em trazer à baila as peripécias da produção, ocorridas a partir de 1994, ano em que adquiriu os direitos de adaptação do bestseller de Fernando Morais. Ao encerrar o filme afirmando em uma legenda ter sido “vítima de censura”, sem que se saiba quem o teria censurado, o produtor Guilherme Fontes revela, por sua vez, que para ele, ao contrário do que disse ao Globo, o que passou, não passou.

Depois da via-crúcis de 21 anos do projeto, apesar de compreensível, a necessidade de extravasar dificulta que o filme Chatô seja visto por si mesmo e apreciado por seus próprios méritos. Ao acumular múltiplas funções – além de diretor e produtor, é corroteirista, ator e distribuidor de Chatô –, Fontes certamente tem sua cota de responsabilidade pelos entraves burocráticos, financeiros e legais que forçaram várias interrupções da produção do filme. O resultado final, porém, não tem cicatrizes aparentes e é um atestado à sua obstinação quase sobre-humana. Se pode ter falhado como empresário e produtor, como corroteirista, diretor e ator fez sua parte com competência e talento – uma encenação feérica, bem filmada e decupada; atuações expressivas nos papéis principais, com destaque para Marco Ricca (Chatô) e Andréa Beltrão (Vivi), e no todo acabamento irrepreensível.

Vitorioso, em parte, o triunfo final do produtor Guilherme Fontes, depois de duas décadas de agruras, depende agora de Chatô atrair público, ser bem acolhido e ter êxito comercial, objetivos que o próprio Fontes considera fundamental alcançar.

Guilherme Fontes, como ator, em uma cena de ``Chatô``
Guilherme Fontes, como ator, em uma cena de ``Chatô``

Chatô começa e acaba muito bem. Nessas duas sequências, de abertura e encerramento, o tom esfuziante do filme é definido com precisão. A engenhosa solução do roteiro de fundir o julgamento do personagem principal, promovido em um programa de televisão, com as sequelas mentais delirantes da sua trombose, libera a narrativa de qualquer compromisso realista, evitando as amarras de um relato biográfico cronológico.

Mas o grande desafio de roteiros ancorados em situações às quais o relato volta a todo momento, como acontece em Chatô, é evitar que se tornem repetitivos. Outra dificuldade, quando começam com intensidade alta, é sustentarem andamento adequado, sem mergulharem na monotonia. Chatô lida bem com esses dois obstáculos, mas nem sempre consegue superá-los de todo.

A irreverência de Chatô, não apenas em relação a Assis Chateaubriand, mas também aos demais personagens, responde em boa parte pela vitalidade do filme, distante das biografias burocráticas e reverentes, quando não francamente chapa branca, que têm prevalecido no cinema brasileiro. Guilherme Fontes, pelo contrário, soube incorporar na medida justa traços do retrato fiel feito por Fernando Morais que sempre fizeram do cidadão amoral Assis Chateaubriand um personagem fascinante.

Marco Ricca e Andréa Beltrão
Marco Ricca e Andréa Beltrão

“Eu não sou esse monstro que dizem que eu sou. Eu sou muito pior,” diz Chatô. De fato, ele se supera mais de uma vez ao longo de sua trajetória. Causa repulsa e, ao mesmo tempo, é atraente. Em parte, talvez, por sua desconcertante franqueza. Chatô ilumina facetas da origem, formação e intimidade com o poder do magnata Assis Chateaubriand, o que não é pouca coisa.

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