Recebi a primeira foto das labaredas às 18h30 de hoje com a mensagem “Cinemateca, será verdade???”. Infelizmente, era. E seguiram-se outras fotos e mensagens, confirmando que a sede da Vila Leopoldina estava em chamas, ao que parece desde 18h.
Trata-se da crônica de uma tragédia anunciada – difícil evitar o clichê. Mas é verdade. Não faltaram advertências de que o valioso patrimônio audiovisual preservado na Cinemateca Brasileira, na sede principal da Vila Mariana e na da Vila Leopoldina, estava correndo sério risco a partir do momento em que funcionários especializados foram dispensados e as portas da instituição fechadas, o que ocorreu no ano passado.
Embora a crise remonte a 2013, quando a então ministra da Cultura, Marta Suplicy, do governo Dilma Rousseff, exonerou o diretor da Cinemateca, Carlos Magalhães, foi a partir de 2019, com a posse do atual governo, que a situação se agravou. O abandono a que filmes e documentos foram relegados foi criminoso e uma destruição como a que vem de ocorrer era previsível.
Promessas de providências vêm sendo feitas há meses pelo governo federal, mas os prazos anunciados para isso não têm sido cumpridos. Nesta quarta, o ministro do Turismo, Gilson Machado, e o secretário da Cultura, Mario Frias, posaram sorridentes diante da Fontana di Trevi, em Roma; um dia depois, as chamas consumiam milhares de registros culturais preciosos.
Mensagens não param de chegar pelo WhatsApp: “Horror.”; “Que tristeza!!! Que horror está esse país!!!”; “Mais um crime.”; “Terrível terrível terrível”; “Aconteceu!!!”; “A última vez que vi o FOGO destruindo bens de CULTURA, foram os LIVROS queimando no Chile de Pinochet. O FOGO destruindo bens de CULTURA tem a mão dos nazistas!!!” “Nossa, nunca imaginei que chegaríamos nesse ponto que estamos. Triste! Continuamos na luta por dias melhores” etc.
Na coluna desta semana neste site, publicada ontem, falamos das feridas abertas do Brasil. O incêndio de hoje é mais uma e, como nas outras, há responsáveis a serem punidos.
Se há algo inadmissível é ainda nos surpreendermos com os desastres que se sucedem. Dezenas de colegas fizeram uma ampla mobilização em defesa da Cinemateca, fizeram-se ouvir, empenharam-se para demonstrar a importância do que estava em jogo e acabaram derrotados pela inépcia do governo federal. É realmente muito triste.