Arrigo Barnabé
Arrigo Barnabé é cantor e compositor. Lançou o DVD Caixa de Ódio, da Coleção Canal Brasil, em que interpreta canções de Lupicínio Rodrigues.
histórias publicadas
O mestre de Tom Jobim
Bom, já está chegando a hora das despedidas, acredito que um novo blogueiro deve assumir a partir de julho, aproveito para agradecer os leitores e ouvintes, pela atenção dispensada.
Não poderia terminar sem oferecer para vocês, leitores e ouvintes, alguma coisa de Villa Lobos, aquele proclamava: “o folclore sou eu!” Gostaria de ter feito uma seleção melhor, mas sou péssimo prospector na internet, eterno neófito.
As diferenças ( …Betha Pickles, a conservada em álcool! )
Tive um amigo, que conheci durante o curso ginasial, Carlinhos. Quando viemos estudar em São Paulo, o Carlinhos teve coragem de assumir que era gay. E radicalizou na maneira de vestir e se comportar. Passou a se maquiar, e se descobriu como mulher, aprisionada em corpo masculino. Aí inventou de tomar hormônio! Lembro de discutir com ele por causa disso, achava que fazia mal, era perigoso…
Diretamente da Portela para a ponte do rio Pinheiros
São Paulo é solidão. Lava que cobre tudo. Atravessar a ponte sobre o rio Pinheiros a pé, existe algo mais desolador que isso? Entre o barulho e a fumaça, expectorados pelos caminhões e ônibus, nos sentimos ali quase como náufragos, caminhando sobre o rio. Cônscios de nossa carne, da nossa organicidade, como o náufrago, depois que aspira o ar, abraçado à areia, redivivo, percebe a mínima pulsação do sangue em toda sua capilaridade pelo organismo, o batimento da vida. Olhando para baixo, podemos ver o rio que não corre mais. Antes piscoso, agora viscoso. Estagnado, aquela estagnação do hospital, da penitenciária, dos asilos.
Encontro marcado com Tom Jobim
Rosas e silêncio para John Cage
Nadir levantou o braço e contemplou as unhas, incendiadas pelo esmalte vermelho da véspera. O sol também brilhava vermelho, prenunciando seu ocaso. Na sala do pequeno apartamento, rasgada por uma janela generosa, a angústia, discretamente cumpria o ritual, exibindo suas credenciais. Ela desviou o olhar para a ânfora, magistral entre os bibelôs da estante, objeto de impecável sobriedade.
As cinzas de seu único amor ali repousavam.
Jorge de Guadalupe, e outros Jorges (São Jorge na porta lilás)
Memórias, angústias e decepções
Nos anos 70, eu costumava frequentar a discoteca da Lapa, na rua Catão. Pegava um ônibus em Pinheiros e ia até aquele bairro bem arborizado, onde as casas não eram geminadas, como em Pinheiros. Ali eu sempre sentia um pouco mais de intimidade com o espaço urbano, como se estivesse nas cercanias de minha casa, no interior.
Por eu frequentar a discoteca fora dos horários de grande fluxo, fazia sempre um percurso tranquilo. Assim, sentado no banco do ônibus, apreciando o verde calmo das árvores, eu serenava um pouco.
Metrônomo
Acordeon
O instrumento que eu mais gostava, quando criança, antes de começar a estudar música, era o acordeon. Queria aprender a tocar esse instrumento, queria mesmo. Gostava tanto de seu som, do timbre, que parecia evocar lembranças de afeto e ternura, mas que já vinham impregnadas pela melancolia da separação, perceptível por qualquer criança ao ver o sol morrer. Havia tristeza em seu som, era tocante.