Jorge Murtinho
Jorge Murtinho foi autor do blog questões de futebol no site da piauí
histórias publicadas
Obrigado, Felipão
Na entrevista coletiva após o jogo de ontem, um dos repórteres perguntou a Felipão se ele achava o futebol brasileiro taticamente atrasado. Resposta: não. Outro jornalista sugeriu que talvez o futebol brasileiro esteja precisando se reinventar. Resposta: não. Em vez de ao menos cogitar a possibilidade de certas coisas estarem erradas, Felipão preferiu se agarrar a abstratos conceitos como “deu pane”, “deu branco”, “futebol é assim”, “acontece”.
Nem pacheco, nem vira-lata
Desde 1998 as Copas do Mundo passaram a ter 32 participantes, e a verdade é que não existem dez grandes seleções de futebol no planeta. Por uma questão de respeito, fiquemos com as oito campeãs – apesar das merecidas dúvidas que recaem sobre Inglaterra e França, vencedoras somente em casa, e da constatação de que o futebol uruguaio vive exclusivamente do passado. (Toda vez que a gente elogia demais a raça, a fibra e o amor à camisa, podem crer que ali falta futebol. Com a seleção uruguaia tem sido assim há tempos.) Entretanto, em nome da história e da frieza dos resultados, deixemos uruguaios, franceses e ingleses na tropa de elite, convidemos a fazer parte dela, por justiça, os holandeses, e acabou. Nove.
Obviedades e falatório
Não é caso perdido, mas estamos taticamente atrasados. Em um esporte coletivo, bons técnicos são capazes de organizar times mais fracos de modo a reduzir as diferenças na qualidade individual dos jogadores. Pode até não resolver, mas aumenta a chance de complicar. Nós não temos isso e parece que nossos treinadores vivem de rezas e motivação. Além disso, falta o diabo da atitude. Qual técnico brasileiro seria capaz de fazer o que o holandês Van Gaal fez, a um minuto da disputa de pênaltis contra a Costa Rica? (Registre-se: sob os veementes protestos da dupla de comentaristas Caio Ribeiro e Roberto Carlos.) Se é preciso levar nossos jogadores para se aprimorar lá fora, pelo menos enquanto não tivermos grana suficiente para montarmos um grande campeonato aqui – se é que um dia teremos –, por que não estender essa necessidade aos treinadores?
Onde está a verdadeira torcida brasileira?
O benefício que esperávamos obter com a pressão da torcida, esse não temos. Se lembrarmos, entre dezenas de outros exemplos bacanas envolvendo nossos clubes, o que fizeram as torcidas do Corinthians e do Atlético Mineiro nas conquistas da Libertadores de 2012 e 2013 ou a do Santa Cruz na volta à série B, e compararmos com a total falta de jeito dos torcedores brasileiros que estão indo aos estádios – ou melhor, os que têm condições de ir –, fica fácil entender por que a nossa principal vantagem foi para o brejo.
A disputa por pênaltis deve acabar
O excesso de interferências off-campo em partidas de futebol
Futebol envolve malícia, catimba, malandragem, mas tudo tem limite. A questão é onde posicionar a linha de equilíbrio. Vi gente argumentando que, se uma mordidinha à toa merece nove jogos de suspensão e audição ininterrupta da obra completa de Oswaldo Montenegro, o que não mereceriam as cotoveladas e soladas por cima da bola que temos visto em todos os jogos da Copa?
Em família
Convocar ou manter jogadores no time em nome de uma tal família, e por outro critério que não seja o de jogar futebol, é um risco. Para competições longas e que premiam a regularidade, faz sentido. Numa Copa do Mundo, pode ser fatal.
Detalhes tão pequenos, mas que mandam seleções para casa mais cedo
Todos sabemos da importância dos detalhes num jogo de futebol. A bola que poderia vir cinco centímetros pra cá e foi cinco centímetros pra lá, o pênalti mal marcado, o frango do goleiro russo, etc. Mas não me refiro a essas coisas de sempre, que acontecem tanto para um lado quanto para o outro e das quais não dá para reclamar. Nos três jogos acima, os detalhes têm gosto de drama, por estarmos na competição esportiva mais importante do planeta e acontecerem no espaço de tempo de um minuto, transformando-se em bons exemplos da frase clássica de Muricy Ramalho: a bola pune.
A Copa está bonita. O mesmo não se pode dizer das chuteiras
Entendo que, nessa altura do campeonato, não seria fácil contrariar os interesses da indústria de material esportivo, mas, que se pense num jeito. É bastante possível que nunca ninguém tenha se preocupado com as chuteiras pelo singelo motivo de que elas só existiam na cor preta, e não havia o que fazer. Agora, é preciso pôr ordem na casa.
Nem melhor, nem pior: mais do mesmo
Jogamos bem contra a Croácia? Mal contra o México? Que nada: jogamos mais ou menos a mesma coisa nas duas partidas. Só que numa delas a bola entrou, na outra não. Numa delas o juiz colaborou, na outra não. Se Thiago Silva subir livre na pequena área adversária por 30 vezes seguidas, podem apostar que ele vai fazer 29 gols. Contra o México, foi justo o dia de cabecear em cima de Ochoa. Duas horas depois do jogo, minha mulher, que não é muito de futebol, perguntou: se jogamos tão mal assim, como é que o melhor em campo foi o goleiro mexicano? Respondi com um muxôxo, algo como “futebol tem dessas coisas”, e ela reclamou que não tenho paciência para conversar com ela sobre o tema. Não é verdade.