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piauí jogos

Jorge Murtinho

Jorge Murtinho foi autor do blog questões de futebol no site da piauí

histórias publicadas

A seleção do quase
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A seleção do quase

Na casa de minha família sempre houve muita discussão, sobretudo a respeito de política e futebol. Éramos cinco irmãos, pai, mãe, duas tias, um tio, avô e avó por parte de mãe. Naquele tempo as pessoas, pelo menos no Rio de Janeiro, iam mais nas casas umas das outras e o apartamento da rua Lauro Muller vivia cheio. Foi lá que eu, toda essa familiarada aí e mais alguns amigos de meus irmãos mais velhos assistimos à Copa de 70. Na política, meu pai era lacerdista e meu avô era do contra. Não demorei para entender que meu avô gostava mesmo era de tumulto. No futebol, o Fluminense predominava na casa, mas entre os amigos tinha um pouco de tudo. E sempre que alguém chegava com os argumentos de “ah, mas se o Fulano não perdesse aquele gol”, “ah, se aquela bola não tivesse batido na trave”, meu pai perdia a paciência: jogo de futebol não tem se; se nunca jogou bola.

O país da neutralidade e do ferrolho
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O país da neutralidade e do ferrolho

Mesmo sem nunca ter tido qualquer importância no cenário futebolístico, na década de quarenta a Suíça descobriu que poderia vencer jogando de um jeito irritantemente defensivo. Os suíços inventaram uma praga chamada ferrolho, quebraram um paradigma e tornaram possível a existência de José Mourinho.

O ferrolho suíço ganhou vários sinônimos e se popularizou, sobretudo junto àqueles que não levam jeito pra coisa. Futebol é um dos poucos esportes em que é muito mais fácil destruir do que criar – o que explica, em parte, seus placares reduzidos –, e a Suíça enxergou nisso a chance de não fazer feio diante dos mais talentosos. Nada de ilegal ou antiesportivo, mas o futebol suíço é chato toda vida.

Portugal e a síndrome do “Eu tô aqui!”
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Portugal e a síndrome do “Eu tô aqui!”

No comecinho de Amor sem fim, quando acontece o acidente com o balão que dispara a história do livro, Ian McEwan dedica meia dúzia de linhas ao que ele chama de “antigo e insolúvel dilema da moralidade”, e que se resume a essa dúvida: nós ou eu.

Não sei se Cristiano Ronaldo leu Amor sem fim, mas com certeza desconhece o conflito. Para o gajo, futebol é Ele e fim de papo. Um pouco sobre isso foi visto aqui*, quando a Fifa o elegeu, pela segunda vez, o melhor jogador do mundo. Mas quando se trata de seleção portuguesa, não dá para discordar de Cristiano Ronaldo: ali só tem Ele.

Por que não acredito na Argentina e na Espanha
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Por que não acredito na Argentina e na Espanha

O motivo que fez Argentina e Espanha ocuparem um post só é óbvio, e atende pelo nome de Lionel Messi. A seleção espanhola é o Barcelona sem Messi e a seleção argentina é o Messi sem Barcelona. A impressão que se tem ao vê-lo jogar por seu país é a de um peixe fora d’água, morrendo de saudades do Iniesta, do Xavi e, sobretudo, do estilo que o Barça pratica de cor e salteado.

In soccer we don´t trust
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In soccer we don´t trust

O que esperar da seleção de futebol de um país cujo presidente tem como esporte predileto o basquete? Um país em que a população prefere beisebol? Podem reparar: só foram campeãs do mundo nações em que o futebol é o esporte número 1. (Tem gente que vai falar do ciclismo na França e das touradas na Espanha. Conversa.)

O bandeirinha, o goleiro, o tira-teima e a hipocrisia
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O bandeirinha, o goleiro, o tira-teima e a hipocrisia

O melhor jogo da Copa do Mundo de 94 foi Brasil e Holanda, pelas quartas de final. Três a dois para o Brasil. Quando Bebeto fez o segundo gol, num lance em que Romário estava em posição de impedimento mas não foi na bola, Galvão Bueno provocou Pelé na transmissão da Globo: “E aí, Pelé, foi ou não foi impedimento?”. Resposta do Rei: “E eu quero lá saber se foi impedimento? O que eu sei é que foi gol do Brasil!”.

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Creio em Deus pai todo-poderoso, que há de me prover o pão e o título da Libertadores

Ano passado, quando o Flamengo ganhou a Copa do Brasil, metade da alegria da torcida foi pela conquista do título e a outra metade pela vaga na Libertadores. O Botafogo só faltou erguer uma estátua de Seedorf ao lado do Manequinho mijão, por ele ter liderado o time que beliscou, 18 anos depois, uma vaga na Libertadores. O Atlético Paranaense comemorou merecidamente o terceiro lugar no Campeonato Brasileiro, pois isso lhe garantia uma vaga na Libertadores.

Aí vem a Libertadores, e Flamengo, Botafogo e Atlético Paranaense se apresentam com times infinitamente inferiores aos do ano passado. Pra que, então, aquela festa toda?

Os italianos são os verdadeiros reis da milonga
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Os italianos são os verdadeiros reis da milonga

Malandro de verdade não dá pinta de malandro pra não levar rasteira da própria malandragem.

Desde que começamos a gostar de futebol, aprendemos que os argentinos são insuperáveis na catimba – ou milonga, como diziam os locutores da minha infância. Dissimulados, cínicos, provocadores, pedem falta quando têm certeza de que a fizeram, batem na maldade, reclamam o tempo todo, percebem rapidamente quando um juiz é frouxo e manipulável. Nada disso é falso, embora tudo também possa ser relacionado ao nosso jeito de jogar. Quando a bola rola, somos iguais a eles: não valemos nada. Se não está errado associar os jogadores argentinos à boa malandragem, também não é certo entregar-lhes o título assim, de mão beijada.

O jogador que disputou três copas por três seleções diferentes
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O jogador que disputou três copas por três seleções diferentes

Governada por Josip Tito desde o fim da Segunda Guerra Mundial até 1980, quando o marechal bateu os coturnos, a Iugoslávia se estilhaçou a partir da década seguinte, quebrando a unificação sempre mantida na marra e dando origem às repúblicas independentes da Sérvia, Macedônia, Croácia, Montenegro, Bósnia-Herzegóvina, Eslovênia e Kosovo, essa última ainda não reconhecida pela Sérvia.

No cinema, um belo filme pra gente começar a se interessar pela confusão étnica na região é Antes da Chuva, do diretor macedônio Milcho Manchevski. No futebol, o embrulho originou a curiosa situação do meia Stankovic – único jogador do mundo que disputou três copas por três seleções diferentes: a da Iugoslávia, a da Sérvia-Montenegro e a da Sérvia sem Montenegro.