Pedro Corrêa do Lago
Pedro Corrêa do Lago é mestre em economia pela PUC - Rio. Foi autor do blog questões manuscritas no site da piauí
histórias publicadas
Stefan Zweig e D. Pedro I
Zweig foi sempre cordial e delicado com todos os admiradores brasileiros que o aproximavam. Compareceu a numerosas sessões de autógrafos organizadas por seu editor brasileiro, homenagens no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e na Academia Brasileira de Letras, visitou escolas judaicas e atendeu a quase todos os convites. Apesar de tentar preservar-se do assédio, era constantemente solicitado por admiradores.
Entre os muitos livros que lhe enviavam, poucos o terão verdadeiramente interessado como o caso do volume intitulado: As Quatro Coroas de D. Pedro I, de autoria do jovem diplomata Sérgio Corrêa da Costa, futuro embaixador em Londres e Washington e membro da Academia Brasileira de Letras. Corrêa da Costa tinha então apenas 23 anos, mas já escrevera uma biografia do primeiro imperador que ainda hoje é lida com proveito.
Uma anotação de Voltaire
O documento reproduzido nesta página é indicativo de uma certa preocupação em identificar e preservar manuscritos notáveis já prevalecente no decorrer do século XVIII. Nessa época, a produção científica e literária era intensa e de grande qualidade, mas quase não existiam colecionadores privados para guardar os manuscritos resultantes da atividade intelectual do período.
As duas páginas mostradas aqui contém um poema de Fontenelle, escritor muito famoso em sua época, hoje pouco lido, mas não totalmente esquecido. É lembrado sobretudo por ter vivido 100 anos, o que era até então inédito entre os autores franceses.
O charlatão que virou palavra
Poucas figuras do passado tiveram a honra de batizar termos correntes no vocabulário de várias línguas, como o marquês de Sade, que viveu no século XVIII e deu origem ao termo sadismo e o escritor alemão do século XIX Sacher-Masoch, a partir da obra do qual se cunhou a expressão masoquismo.
O trenzinho de Renoir
O século XIX assistiu à disseminação da prática de ilustrar cartas com pequenos desenhos, tanto para auxiliar a mensagem quanto apenas para homenagear o destinatário com uma gentileza adicional. Era lisonjeiro verificar que o amigo havia-se esforçado em enriquecer sua missiva com desenhos ou às vezes aquarelas, o que transformava a carta num objeto decorativo ou mesmo numa obra de arte. Há muitas cartas ilustradas de grandes escritores franceses como Victor Hugo, Verlaine ou George Sand, mas são naturalmente os próprios pintores aqueles que com mais frequência ornavam suas cartas com desenhos.
Um selfie pré-histórico
Allen Ginsberg também gostava de fotografia: comprou um aparelho por 13 dólares em 1953 e clicou todo o mundo que o cercava até o início dos anos 70. Suas fotos são hoje muito apreciadas e Ginsberg, consciente do interesse que suas imagens poderiam suscitar, reeditou muitas delas nos anos 1990, sobretudo retratos de seus amigos também escritores como Jack Kerouac ou William Burroughs, com comentários manuscritos na margem inferior.
A foto reproduzida nesta página é um documento raro. Muito pouco reproduzida, foi feita na Austrália no topo da famosa montanha chamada Ayers Rock e pode ser considerada um antepassado do hoje muito popular selfie.
O autorretrato de Miles Davis
Os excessos e a cocaína fragilizaram sua saúde. Davis morreu com apenas 65 anos, em 1991, de um derrame cerebral. Pequenos derrames já haviam ocorrido na década de 1980, quando um médico sugeriu que desenhasse e pintasse como distração. Davis gostou da idéia e desenvolveu um estilo peculiar de aquarelas quase abstratas. Algumas tinham figuras alongadas, geralmente femininas, com rostos humanóides que lembravam marcianos da ilustração de ficção científica. Sua obra tornou-se cada vez mais consistente e chegou a ser representado permanentemente por uma galeria. Seus trabalhos são ainda hoje apreciados por colecionadores, mesmo que não atinjam preços astronômicos.
Mais figurativo, o desenho mostrado nesta página difere um pouco do estilo que o grande músico desenvolveu, mas tem um interesse especial, pois trata-se de um autorretrato em caneta vermelha no qual Davis se representa com seu famoso trompete.
Um desastre anunciado
Este cartão traz uma declaração do jornalista Carlos Lacerda, no auge da crise de governo que desembocaria no suicídio de Getúlio Vargas. Nesse momento, com um quadro político que significava a iminente deposição do presidente eleito havia três anos, Lacerda já se via como o líder de maior futuro do país e candidato forte à sucessão de Getúlio. Dizia nas páginas de seu jornal, que considerava estar liderando, pela imprensa, uma “revolução” pacífica, para livrar o Brasil de Vargas. Nesse clima extremamente tenso, nove dias antes do desfecho da crise e o suicídio do presidente.
O libertino desafia a Revolução Francesa
Algumas peças sobre papel são de uso tão imediato e de natureza tão efêmera que sua própria sobrevivência depende muitas vezes de repetidos pequenos milagres, sobretudo quando escapam por séculos às incontáveis oportunidades de serem jogadas no lixo. É, sem dúvida, o caso do elaborado convite reproduzido nesta página, assinado pelo mais bem-sucedido dramaturgo europeu do final do século XVIII, o francês Caron de Beaumarchais, autor de uma série de peças de teatro em torno do personagem Figaro que fizeram imenso sucesso e inspiraram as óperas Casamento de Figaro, de Mozart, e O Barbeiro de Sevilha, de Rossini. A fama de Beaumarchais só perdia para sua reputação de libertino e sua vida intensa superou todas as tramas que inventou.
O apelo desesperado de Mata Hari
O nome Mata Hari é hoje sinônimo universal de espiã, mas durante os primeiros quinze anos do século XX, foi, por outros motivos, um nome célebre na França. Designava então uma dançarina exótica que executava danças asiáticas com trajes bastante sumários, o que naquela época era pouco convencional e valera-lhe uma reputação de cortesã.
A amante de Solano López