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    Antiga moradia de internos de uma colônia de hansenianos ainda em atividade em Itu, São Paulo: “Se morre a pessoa que mora na casa, eles lacram ou então derrubam, porque querem acabar com o Pirapitingui”, lamenta uma paciente CRÉDITO: LUIZA SILVESTRINI_2023

questões sociomedicinais

Colônia de hansenianos já foi pequena cidade

No interior de São Paulo, o local ainda abriga 66 ex-pacientes e 125 familiares e amigos

Luiza Silvestrini | 28 jun 2024_09h54
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Com 101 anos, Mafalda Nardo é a paciente mais longeva do Hospital Estadual Especializado em Reabilitação Dr. Francisco Ribeiro Arantes, na cidade paulista de Itu. Ela foi internada ali à força, em 1936, quando tinha 13 anos, diagnosticada com hanseníase. O hospital – inaugurado cinco anos antes –, era chamado na época de Asilo Colônia Pirapitingui e é uma das mais antigas instituições para hansenianos ainda em atividade no país. Nos anos 1950 chegou a ter 5 mil internos.

Além de Nardo, hoje vivem nos pavilhões do Pirapitingui mais 36 pacientes internados compulsoriamente até 1986 – quando esse tipo de internação acabou na prática – e que ainda recebem cuidados. São sete construções parecidas com grandes casas, dispostas bem próximas umas das outras.

Fora as pessoas atendidas nesses espaços, vivem no entorno, em pequenas casas, mais 66 ex-pacientes já tratados da mesma doença no hospital, em diversas épocas, e que resolveram permanecer ali por não terem conseguido se adaptar bem em outro lugar. Com eles, vivem 125 familiares ou amigos que preferiram ficar por perto. Hoje nenhum paciente do hospital tem a hanseníase ativa, mas muitos ainda tratam sequelas, que vão de lesões na pele à cegueira. O tratamento para a cura da hanseníase (disponível no SUS) é feito com poliquimioterapia e dura de seis a doze meses. A transmissão para em até 48 horas após a primeira dose supervisionada da medicação.

A área de 950 mil m² do Asilo Colônia Pirapitingui – equivalente a 95 campos de futebol – está ocupada ainda por 166 edificações que no passado atenderam às necessidades dos milhares de doentes levados à força para lá. Como numa pequena cidade, o local dispunha de hotel, restaurante, bar, armazém, lojas, cemitério, salão de beleza, cinema, rádio e um jornal, entre outros estabelecimentos.

A partir dos anos 1920 foram construídos 35 asilos-colônias no Brasil para hansenianos. Destes, segundo o Ministério da Saúde, ainda restam 31, em dezoito estados. Em 1926, adotou-se a internação compulsória, de três tipos: nos dispensários eram acompanhados os casos suspeitos; para as colônias eram encaminhados os doentes de fato; e para os preventórios – um tipo de orfanato – eram levados os filhos dos hansenianos nascidos nas colônias. “As crianças iam embora logo que nasciam. Nem conheciam as mães, que ficavam chorando”, lembra Nardo.

Por causa dos numerosos relatos de famílias separadas, documentos duplicados ou adulterados e adoções irregulares, o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) iniciou uma campanha de cadastramento voluntário de filhos que sabiam ou desconfiavam ter sido separados das mães ao nascer em colônias de hansenianos. Entre 2009 e 2015, 10 mil pessoas se apresentaram. Mas o número de filhos de hansenianos separados dos pais pode ser maior, relata Luiza Silvestrini na edição deste mês da piauí.

Um grupo de trabalho criado no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania planeja o tombamento federal de cinco antigas colônias no país até 2027. Em São Paulo, o governo do estado tombou cinco unidades, entre elas a de Pirapitingui. Mas a degradação dos imóveis aumenta a cada dia, e os moradores lamentam a demolição de antigas casas. “Se morre a pessoa que mora na casa, eles lacram ou então derrubam, porque querem acabar com o Pirapitingui. É um patrimônio que vai acabar”, lamenta a paciente Ely Minilo. No ano passado, 37 imóveis próximos à casa dela foram demolidos, apesar de tombados.

Assinantes da revista podem ler a íntegra do texto neste link.

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