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    Série Mitos Indígenas. Print em papel hahnemuhle 42 x 29,5 cm. CRÉDITO: DENILSON BANIWA

questões antropológicas

Como estudos genéticos desrespeitaram os indígenas

Livro discute como uma descoberta sobre o DNA de povos originários brasileiros foi feita à revelia dessas populações

| 06 out 2023_05h40
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Em 2015, uma análise do DNA de três povos indígenas brasileiros provocou uma reviravolta na história da ocupação das Américas. O estudo mostrou que os pater-suruís, karitianas e xavantes têm em seu genoma sequências hoje só encontradas no genoma de nativos da Oceania e do Sudeste Asiático. Os pesquisadores não sabem a razão disso, mas a descoberta mostrou que a ancestralidade dos povos originários americanos é mais complexa do que se imaginava.

Apesar da relevância do achado, ele foi feito à revelia dos interesses desses povos. Parte do material usado na análise é derivada de amostras de sangue colhidas em 1987 pelo pesquisador Francis Black, da Universidade Yale. Elas deram origem a linhagens celulares imortalizadas, que se reproduzem indefinidamente e continuam sendo usadas em estudos genéticos até hoje. Os indígenas nunca foram informados sobre os resultados dessas pesquisas.

Um dos problemas que envolvem essa prática é que os indivíduos dos quais o sangue foi tirado há quase quarenta anos podem ter morrido desde então (não é possível saber com certeza, já que as amostras não são identificadas). Na cultura de povos como os Paiter-Suruí, quando alguém morre, seus objetos são sepultados junto com o corpo, e alguns parentes nem pronunciam mais seu nome. Para eles, a ideia de que células de uma pessoa morta estejam disponíveis para pesquisa num laboratório estrangeiro é perturbadora.

O episódio levanta sérias questões éticas sobre as pesquisas genéticas feitas com DNA indígena, conta Bernardo Esteves no livro Admirável novo mundo – uma história da ocupação humana nas Américas, do qual a piauí publica um trecho na edição deste mês.

Os assinantes da revista podem ler a íntegra do texto neste link.

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