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    “Uma das preocupações centrais do CIR é como o consumo, a criação, e o compartilhamento de informação se transformou na última década”, disse Collis Foto: Marcelo Saraiva

festival piauí de jornalismo

Como ir além da checagem no combate à desinformação

Henry Collis, ex-funcionário do governo do Reino Unido e atual diretor do Centro de Resiliência da Informação (CIR), reitera a importância de ferramentas múltiplas na construção de informações confiáveis

Lara Machado | 03 dez 2023_19h09
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Desde janeiro de 2022, o Centro pela Resiliência da Informação (CIR) coletou e organizou mais de 34 mil informações associadas às atividades militares da Rússia na Ucrânia.  Dessas, cerca de 15 mil foram apuradas e disponibilizadas para o público em um mapa que categoriza as atividades conforme o tipo e data do ataque. Essas informações são fruto do projeto Eyes on Russia, que partiu de um levantamento de conteúdos públicos da internet, incluindo imagens e vídeos postados em redes sociais como X (antigo Twitter) e Telegram. 

O Eyes on Russia é um dos projetos que ilustram a missão do CIR em produzir informação confiável num contexto de crescente circulação de conteúdos. “Uma das preocupações centrais do CIR é como o consumo, a criação, e o compartilhamento de informação se transformou na última década”, disse Henry Collis, diretor do CIR, na mesa mediada por Marcella Ramos (piauí) e Alana Rizzo (Youtube), no Festival piauí de jornalismo. Collis trabalhou na Secretaria de Segurança do Reino Unido antes de se tornar diretor da instituição, que não tem fins lucrativos e foi criada em 2020 por Ross Burley e Adam Rutland, dois de seus colegas. 

A produção e a circulação de cada vez mais conteúdo nas redes poderia ser somente mais uma barreira para o público conseguir acessar a informação de qualidade, mas virou uma ferramenta poderosa nas mãos da centena de pesquisadores que integram o CIR. Segundo Collis, essa crescente disponibilidade de dados públicos fez com que, nos últimos anos, houvesse uma explosão de informações obtidas por OSINT, sigla em inglês para Open Source Intelligence, ou Inteligência de Fonte Aberta. O termo pode soar complicado, mas nada mais é que a técnica utilizada para a fase de coleta do projeto Eyes On Russia: o levantamento de posts, mensagens públicas, textos, áudios, imagens e vídeos e seu seguinte tratamento. 

Collis acredita que a criação de informações de qualidade não depende somente da quantidade de dados, mas sim de uma organização cuidadosa que leva em conta o contexto de produção de cada dado. Ele apresentou uma série de métodos que garantem o enriquecimento da informação, como a geolocalização, cronolocalização, cruzamento de dados com origens em diferentes plataformas e constante atualização das informações. 

Além de se dedicar a expor violações dos direitos humanos e crimes de guerra (que incluem investigações em outras áreas de conflito, como Mianmar e Afeganistão),  o CIR também combate o comportamento online prejudicial às mulheres e às minorias. Para isso, estabeleceu uma rede de cooperação com organizações multilaterais e governamentais, pesquisadores e voluntários. 

Para viabilizar esse trabalho exaustivo, é preciso ter verba. Por isso, o CIR conta com subsídios do Gabinete de Relações Exteriores, Commonwealth e Desenvolvimento do governo do Reino Unido. Quando questionado se isso afetaria a independência do instituto, Collis garantiu que a produção da CIR não é impactada: “Nós somos financiados por outros governos, mas eles tendem a estar alinhados. A China, por exemplo, não é parte desse grupo”, brincou. O CIR também conta com o Departamento de Estado dos EUA, da USAID e do Departamento de Relações Exteriores e Comércio da Austrália. “Esse financiamento corresponde a cerca de 85% dos recursos do centro”, afirmou, “Mas não há controle editorial, nem limitação imposta pelos governos”.

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