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    Em Lagos, nigerianos aguardam a visita de Jimmy Carter, em 31 de março de 1978: três anos depois, ele deixaria a Presidência e passaria a se dedicar à luta pelos direitos humanos CRÉDITO: DIETER ENDLICHER_1978_AP PHOTO_IMAGEPLUS

despedida

Como Jimmy Carter incomodou a ditadura brasileira

O presidente americano, que morreu aos 100 anos, defendeu os direitos de presos políticos

Consuelo Dieguez | 10 fev 2025_07h26
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Em 1976, o diplomata Rubens Ricupero era conselheiro na Embaixada do Brasil nos Estados Unidos quando lhe coube informar o governo brasileiro sobre as eleições presidenciais americanas daquele ano. A disputa estava acirrada entre o democrata Jimmy Carter, governador da Geórgia, e o republicano Gerald Ford, que assumira a Presidência em 1974, depois do escândalo Watergate, responsável pela renúncia de Richard Nixon.

Os informes que Ricupero enviava ao Itamaraty não continham boas notícias para a ditadura comandada pelo general Ernesto Geisel. As pesquisas davam a vitória de Carter como certa, e os relatórios do diplomata indicavam que, caso as projeções se concretizassem, a eleição seria “uma dor de cabeça” para o governo militar. “Eu informava que, na campanha, Carter havia mencionado o Brasil como violador dos direitos humanos”, conta Ricupero a Consuelo Dieguez na edição deste mês da piauí. “Além disso, o democrata criticava o acordo nuclear assinado entre Brasil e Alemanha, que era caro aos militares, pois poderia transformar o país numa potência atômica, coisa que os americanos não queriam.”

A vitória de Carter acabou acontecendo por causa do desejo de mudança dos americanos, ainda abalados pela Guerra do Vietnã e pelo escândalo envolvendo Nixon. “Ele era uma novidade”, diz Ricupero. “Foi a primeira e a última vez que um candidato à Presidência dos Estados Unidos transformou os direitos humanos e a paz em tema de campanha.”

Carter morreu em dezembro passado, aos 100 anos. Não deixa de ser simbólico que uma personalidade com ideias progressistas e pacifistas saia de cena justamente no momento que a Casa Branca passa a ser ocupada por Donald Trump, com seu discurso radical, violento e segregacionista. Para o embaixador Gelson Fonseca Junior, fundador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), não é possível comparar os dois. “Carter tinha um comportamento de homem público e um modo tolerante de conviver que não têm nada a ver com o que veio depois”, afirma.

Assinantes da revista podem ler a reportagem neste link.

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