Criatividade e talento – Esmir Filho, um diretor ambicioso
Ambição bem dosada é indispensável. No cinema, talvez por que o fascínio que exerce vem de ser reinventado a cada filme.
Ambição bem dosada é indispensável. No cinema, talvez por que o fascínio que exerce vem de ser reinventado a cada filme.
Ambição, ensina o dicionário, quer dizer “desejo ardente de alcançar um objetivo superior”. Nada a ver com pretensão, sinônimo de vaidade exagerada e soberba (ver post de 5/4/2010).
O ambicioso diretor Esmir Filho, apesar do título, a meu ver infeliz, do seu primeiro longametragem, fez um filme superior, lançado no Rio, há uma semana, de maneira quase clandestina. Mais uma vez, o melhor do cinema brasileiro recebe tratamento indigno, condenando a uma provável carreira comercial inexpressiva. É pena, por que o filme é uma rara demonstração de criatividade e talento.
Por só ter visto ontem, não pude comentá-lo na piauí deste mês junto com "As melhores coisas do mundo" e "Sonhos roubados", dirigidos por Laís Bodansky e Sandra Werneck, que estream em 16 e 23 de abril. São três filmes que tratam de adolescentes e formam um painel interessante da juventude brasileira em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.
O que diferencia "Os famosos e os duendes da morte" dos outros dois filmes é a ambição maior, em boa medida realizada, da forma narrativa, visual e sonora. Mauro Pinheiro Jr., o diretor de fotografia, inclusive, que assina também a fotografia de "As melhores coisas do mundo", demonstra a diferença entre um trabalho correto e eficiente, no filme dirigido por Laís Bodansky, e uma contribuição criativa, no dirigido por Esmir Filho.
O roteiro, baseado no livro homônimo de Ismael Caneppele, co-roteirista e ator, narra sem se basear em diálogos explicativos, como é comum no cinema brasileiro contemporâneo, por má influência das novelas de televisão. No caso de "Os famosos e os duendes da morte" a narrariva é conduzida por imagens e sons, não pelo que os personagens dizem.
A solidão dos adolescentes do filme dirigido por Esmir Filho chega a doer. Vivem isolados, mantendo contatos virtuais, e ouvindo música através de ear-phone. Conversam e fumam, à noite, sentados no meio-fio. Têm um ideal inalcançável, assistir um concerto de Bob Dylan, mas acabam mesmo dançando com a própria mãe, viúva, na festa junina.
A ponte de madeira da pequena cidade em que vivem é, ao mesmo tempo, de onde suicidas se atiram e passagem para a libertação do mundo que os oprime.
Não conheço Esmir Filho, nem sei quantos anos ele tem. Suponho que seja jovem e que talvez tenha menos de 30 anos. Li que realizou um video, "Tapa na pantera", que fez furor na internet, em 2006. Vejam "Os famosos e os duendes da morte". E aguardemos todos, oxalá para breve, seu próximo filme ambicioso.
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