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    Roberto Cabral Borges, analista ambiental do Ibama, falou sobre o esvaziamento de poder que o instituto enfrenta, a necessidade de mudanças no arcabouço juridico e falta de apoio popular. Mesa teve mediação de Bernardo Esteves (piauí) e Carol Pires (curadora do evento). | Foto: Thais Mallon

encontros piauí

Crimes associados na Amazônia

Analista do Ibama afirma que agentes do PCC atuam como gerentes do garimpo em terras indígenas

13 jun 2023_15h56
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O crime ambiental e o crime organizado estão associados na Amazônia – e para realizar qualquer enfrentamento será preciso entender como funciona essa associação criminosa. Foi assim que Roberto Cabral Borges, analista ambiental do Ibama, falou de seu trabalho durante o evento Encontros piauí, realizado nesta terça-feira (13) em Brasília. “Integrantes do PCC estão presentes nas terras indígenas como gerentes do garimpo. Eles descobriram uma forma de ganhar dinheiro na Amazônia e de ter esse controle”, afirmou o biólogo, que foi entrevistado pelo repórter da piauí Bernardo Esteves, especializado na cobertura de ciência e meio ambiente, e pela jornalista Carol Pires, curadora do evento, uma parceria entre a piauí e o YouTube.

Segundo Cabral Borges, a equipe de fiscalização do Ibama observou uma mudança de comportamento do garimpo nos últimos anos. Antes encontravam armas de caça e dois ou três cartuchos de munição. Hoje apreendem caixas de cartuchos, pistolas, revólveres e até fuzis. “Ficou mais fácil o acesso a esses materiais e o desvio de munição”, afirmou o analista. A equipe apreendeu um fuzil 762 na terra yanomami em uma das últimas fiscalizações.

No governo Bolsonaro, servidores do Ibama perderam o porte de arma, enquanto fuzis foram entregues para caçadores e colecionadores, os CACs. “Quem fiscaliza está menos armado do que quem é fiscalizado”, disse Cabral Borges. Ele ressaltou que atualmente as equipes de fiscalização não conseguem mais pegar os garimpeiros de surpresa, pois estes estão conectados no meio da floresta e acompanham as investigações. 

No encontro, realizado no Brasília Palace Hotel, o biólogo citou uma reportagem que dizia que era mais fácil achar mico-leão-dourado na natureza do que fiscais do Ibama. “Infelizmente hoje estamos em uma situação ainda pior: felizmente a população de micos-leões-dourados está crescendo, mas a população de fiscais do Ibama, não.” Atualmente, o Ibama tem apenas setecentos fiscais ambientais – e a maioria está direcionada para ações na Amazônia. “O adequado seria ter agentes para cuidar de todos os biomas e que os agentes da Amazônia conseguissem, de uma forma rotineira, cuidar da floresta.” Somando todas as funções (analista ambiental, analista administrativo, técnico ambiental, auxiliar administrativo e técnico administrativo), o Ibama, o ICMBio, o Serviço Florestal e o Ministério do Meio Ambiente têm 4,1 mil vagas desocupadas.

Cabral Borges passou por postos como diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros, diretoria de Proteção Ambiental e Coordenação de Operações de Fiscalização do Ibama. Com mais de vinte anos de experiência no órgão, foi um dos fundadores do Grupo Especial de Fiscalização do Ibama (GEF), criado em 2014 e que funciona como uma espécie de tropa de elite do órgão, com um grupo restrito de agentes muito bem treinados. A equipe aborda balsas de garimpeiros no meio de rios, faz ações com helicópteros e utiliza armamentos pesados. Durante o governo Bolsonaro, o GEF ficou na geladeira durante oito meses. Sob Bolsonaro, a Amazônia teve média anual de desmatamento de 11,4 mil km² – o maior aumento proporcional em relação ao mandato anterior.

Cabral Borges foi exonerado da coordenação do GEF três meses depois do início do governo Bolsonaro, pois não quis punir fiscais que agiram de forma correta. O analista ambiental obteve na Justiça uma liminar para exercer sua função, já que, nesse período de desmonte, foi transferido da coordenação de fiscalização para um setor de administração.

Disse acreditar que é possível chegar ao desmatamento zero no Brasil, mas para isso é preciso que haja uma proposta eficaz do governo e também que a população se engaje. “Precisamos mudar a ideia da população de que desmatamento é sinônimo de desenvolvimento. Temos que olhar para a floresta em pé e ressaltar que isso sim é desenvolvimento.”

Acesse aqui a entrevista completa.

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