Candidato a vice de Jair Bolsonaro, o general da reserva Hamilton Mourão vem acumulando repercussão negativa desde que o presidenciável foi para o hospital e deixou de fazer campanha na rua. Mas nada se compara às críticas que Mourão recebeu ao falar do décimo terceiro salário, na última quinta-feira. Entre 11 e 20 de setembro, período em que defendeu uma nova Constituição escrita por “notáveis” e que famílias sem homens são “fábricas de desajustados”, Mourão foi protagonista de 339 mil tuítes, ao longo de dez dias. Já ao criticar o décimo terceiro e chamá-lo de “jabuticaba brasileira”, em um único dia, foram 187 mil citações na rede social. Nesse dia, pelo menos um em cada cinco tuítes sobre Bolsonaro mencionava seu vice, a maior parte deles de forma negativa. Somados, são mais de meio milhão de tuítes sobre as frases polêmicas de Mourão – 36% delas sobre o décimo terceiro.
O levantamento é da Diretoria de Análises de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas. Segundo a análise, até apoiadores de Bolsonaro criticaram as declarações de Mourão, pedindo que o presidenciável impedisse mais falas de seu vice durante a campanha. O pedido de seus apoiadores não é infundado. Depois que Bolsonaro sofreu o atentado em Juiz de Fora, em 6 de setembro, Mourão passou a representá-lo em eventos de campanha. Desde então, o general da reserva falou em uma intervenção militar em caso de “anarquia”, cogitou a possibilidade de um “autogolpe”, além de defender a Constituição sem passar por uma Constituinte. “A Constituição não precisa ser feita por eleitos”, disse.
Em entrevista à piauí em 26 de setembro, um dia antes de criticar o décimo terceiro, Mourão negou se arrepender de suas declarações e se queixou de ter suas opiniões sufocadas pelo “politicamente correto” de uma corrida eleitoral. Ele negou que fosse um fardo para a campanha, mas contou que Bolsonaro havia conversado com ele duas vezes sobre o assunto, pedindo que tivesse “cuidado” com temas controversos.
Até as 23 horas da quinta-feira, as menções à fala de Mourão sobre os direitos trabalhistas tiveram volume médio de 14 mil tuítes por hora. No espectro econômico da campanha de Bolsonaro, a repercussão negativa da fala de Mourão só se compara em alcance aos momentos em que o presidenciável “terceirizou” assuntos de economia para Paulo Guedes e em que o economista falou sobre a “recriação da CPMF”. Com as reações negativas à declaração sobre o imposto, Guedes foi advertido por Bolsonaro e cancelou eventos públicos.
Nas redes sociais, o candidato do PSL não demorou a tentar cessar o estrago da fala sobre o décimo terceiro. Em sua conta no Twitter, poucas horas depois das declarações de seu vice, Bolsonaro publicou que o critira o décimo terceiro salário, “além de uma ofensa a quem trabalha, confessa desconhecer a Constituição”. Nesta sexta-feira, a repórter Andréia Sadi escreveu que, segundo Mourão, Bolsonaro ligou para ele antes de tuitar a resposta e que a relação deles é de “lealdade absoluta”.
A DAPP-FGV observa também que alguns perfis endossaram a opinião de Mourão, com críticas ao que chamaram de “manipulação da imprensa” e mesmo a Bolsonaro, por entenderem que a leitura do general acompanha princípios associados à redução do Estado e ao estímulo à classe empresarial.
Mourão também criticou o adicional de férias e a repercussão disso provocou 33,8 mil postagens. Entre perfis críticos a Bolsonaro no Twitter, segundo o relatório da DAPP-FGV, um tema de debate foi a posição do general como “principal adversário” de Bolsonaro na campanha, junto a Guedes. Perfis de humor, de atores políticos e de celebridades afirmaram, com ironia, que Mourão rotineiramente consegue fazer “estragos” contra Bolsonaro que nenhum adversário político se aproxima de obter ao atacá-lo.