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    Luciano Bivar, presidente do PSL, Rosaly Almeida, candidata a vice-prefeita, e Carlos Lima, candidato do partido à prefeitura do Recife - Foto: Divulgação

questões eleitorais

De parceiro de condomínio a queridinho do PSL

Colega de escritório do vice-presidente do partido recebe 4,2 milhões de reais para disputar prefeitura do Recife, mas só tem 1% de intenção de voto

Thais Bilenky | 27 out 2020_17h43
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O PSL reservou a um candidato desconhecido e sem viabilidade eleitoral o maior repasse dos cofres do partido até agora, no valor de 4,2 milhões de reais. Em sua primeira eleição, o advogado Carlos Lima disputa a Prefeitura do Recife, base eleitoral do presidente nacional e fundador da sigla, deputado Luciano Bivar, mas só alcançou 1% na pesquisa de intenção de voto do Ibope do dia 15 de outubro. 

Na primeira parcial de prestação de contas disponível na Justiça Eleitoral, a quantia doada a Lima é superior à transferida a candidatos de maior expressividade ou mais competitivos. A deputada federal Joice Hasselmann, que disputa a prefeitura paulistana, por exemplo, recebeu 2,25 milhões reais do PSL. Nicoletti, terceiro colocado na eleição de Boa Vista (RR), com 10% no Ibope, obteve 2 milhões de reais. Os candidatos a prefeito no Rio, Luiz Lima, e em Curitiba, Fernando Francischini, receberam, respectivamente, 2,9 milhões de reais e 2,8 milhões de reais.

O PSL acumula polêmicas de suspeitas e investigações de mau uso de recursos públicos em esquemas de candidaturas laranjas. Na eleição de 2018, na qual o próprio Bivar disputou uma vaga para a Câmara dos Deputados, repasses desproporcionais para o Recife foram registrados. A piauí mostrou que o fundador da sigla recebeu o maior montante do país, 1,8 milhão de reais – o ressarcimento pelo “aluguel da legenda” a Bolsonaro naquela disputa. 

Em outubro de 2019, Bivar foi alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal em sua casa para investigar possíveis candidaturas laranjas do PSL na eleição do ano anterior. Sua defesa negou as acusações e considerou a ação um “absurdo”.

O candidato do PSL a prefeito do Recife diz ter “uma relação de amizade pessoal” com Bivar e seu braço-direito, o vice-presidente do partido, Antonio Rueda. Lima e Rueda são advogados e dividem a sede de um escritório em Brasília. “A gente tem uma espécie de condomínio, divide a mesma estrutura, os custos da mesma casa”, afirmou Lima à piauí.

Segundo ele, Bivar e Rueda convidaram-no para se filiar ao PSL meses antes da eleição deste ano. A legenda estava em tratativas para apoiar ou Mendonça Filho, do DEM, ou Daniel Coelho, do Cidadania, que acabou desistindo. “Acontece que o partido ficou muito grande nacionalmente e, tirando o próprio Luciano, não tem quadro na cidade em que ele nasceu. Então a gente optou por lançar candidatura própria até para formar quadros para o futuro”, disse Lima. 

Com a campanha mais curta e excepcional deste ano, devido à pandemia do coronavírus, e com financiamento público, muitos partidos decidiram lançar nomes consolidados para serem puxadores de voto e ajudarem a eleger vereadores da legenda. Segundo Lima, a lógica do PSL foi exatamente a contrária. O investimento pesado em sua campanha se deve ao desafio, ele argumentou, de torná-lo conhecido da população. “É muito difícil, nunca fui político. Precisa de investimento em televisão, no nosso comitê aqui, que é belíssimo”, afirmou.

Lima reage a qualquer associação entre sua candidatura pouco competitiva e o histórico controverso do PSL. “É até falta de respeito tratar como se fosse candidatura laranja”, rebateu o advogado. “Você pode acompanhar no nosso guia eleitoral, nosso comitê, nossa rede social, nosso material de campanha. Estamos investindo em uma candidatura séria.” 

Procurado, Bivar não atendeu telefonemas nem respondeu a mensagens. Sua assessoria disse para procurar o partido. Em nota, o PSL afirmou que Joice Hasselmann recebeu 3,65 milhões de reais nesta segunda-feira, dia 26, o que a torna a principal beneficiária do fundo eleitoral da legenda, com montante de 5,9 milhões de reais. Os dados não estão na página da candidatura no site do TSE. 

“A distribuição dos recursos ainda não terminou, o que dificulta a previsão do montante final para cada candidatura. Essa definição vai passar pela estratégia política de escolha de cidades estratégicas e pela viabilidade das respectivas candidaturas”, disse a sigla.

Segundo noticiou o Jornal do Commercio, de Pernambuco, em agosto, a candidatura de Lima foi selada num encontro em um restaurante na capital do estado com Bivar, Rueda e dois dirigentes locais. Bivar falou em “consenso” e “renovação” no anúncio. O advogado tem 39 anos e patrimônio pessoal declarado de 4,9 milhões de reais.

O programa de governo entregue por sua campanha apresenta projetos como o chamado Cata Mais, que prevê que catadores façam a coleta de resíduos sólidos em suas próprias comunidades, ideia similar à lançada pelo governo de Alagoas em 2015 com o mesmo nome. Ou o Primeiros Passos, voltado a crianças de zero a seis anos e suas mães – programa de mesmo nome já em atividade em Salvador.

Lima disse que não conhecia o Cata Mais alagoano. “Nem ideia.” Quando questionado a respeito do Primeiros Passos, ele demonstrou não saber que estava em seu programa de governo. “Trata de que esse projeto?”, perguntou. Citou outras propostas na área de educação e, em seguida, afirmou que não tem problema em admitir inspirações em outras gestões. “Vou copiar o Corujão de Doria em São Paulo”, emendou, referindo-se ao programa para diminuir as filas nos serviços de saúde da prefeitura paulistana lançado pelo ex-prefeito e hoje governador João Doria, do PSDB.

Na corrida de 2018, quando elegeu Jair Bolsonaro presidente da República, o PSL passou de nanico a segundo maior partido da Câmara, atrás do PT. O resultado lhe rendeu a segunda maior fatia dos fundos partidário e eleitoral nas disputas municipais deste ano. Dos 126 milhões de reais já desembolsados pelo diretório nacional em todo o país, 4% (quase 5 milhões de reais) foram entregues à comissão provisória do Recife, que por sua vez dedicou 50% do montante (2,5 milhões de reais) a Lima. Outros 1,7 milhão de reais (1,3% do total) foram doados diretamente à conta eleitoral do candidato a prefeito do Recife. Lima afirmou que uma parte seria repassada a candidatos a vereadores, mas não soube dizer quanto e para quem.

Depois da eleição de 2018, o PSL mergulhou em brigas internas, investigações de corrupção e rachas. Questionado por um simpatizante na saída do Palácio da Alvorada, em outubro de 2019, Bolsonaro disse para “esquecer o PSL” e que Bivar estava “queimado para caramba”. A declaração vazou, gerando uma crise que precipitou a sua desfiliação e a de seu grupo para a criação de um novo partido, que não saiu do papel.

A pesquisa do Ibope mostrou o deputado João Campos (PSB) na liderança da corrida para a Prefeitura do Recife, com 33% das intenções de voto, seguido por Mendonça Filho, com 18%, e Marília Arraes (PT), com 14%. Apesar de ter 1% das intenções de voto, Carlos Lima tem rejeição de 21% entre o eleitorado do Recife, de acordo com o levantamento.

Conforme a declaração de despesas da candidatura do PSL ao Tribunal Superior Eleitoral, dos 4,2 milhões de reais recebidos pelo candidato, 1,1 milhão de reais foram desembolsados na empresa de marketing Veloso.com para a produção de programas de rádio e televisão. Outros 935 mil reais foram gastos em serviços de estruturação de comitê, material de campanha e de militância desempenhados pela Onzex Produções.

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