Deodoro desabafa com Floriano
Nesta carta de 21 de Agosto de 1890, dirigida a Floriano Peixoto, uma das mais contundentes e irônicas da correspondência conhecida entre os dois grandes líderes militares dos primórdios da República, marechal Deodoro da Fonseca deixa transparecer claramente seu aborrecimento.
A República foi proclamada em 15 de Novembro de 1889 de maneira tão atabalhoada que o chamado Governo Provisório, chefiado pelo marechal Deodoro da Fonseca, teve de tentar reorganizar toda uma administração e uma enorme burocracia composta na sua maior parte por fiéis servidores do Imperador. Ainda que muitos funcionários tenham se apressado em renegar suas antigas convicções monarquistas, os militares que acabavam de assumir o poder deveriam substituir a maior parte dos cargos de confiança. Isso naturalmente criava tensões consideráveis e a irritação do velho marechal Deodoro era constante. Nesta carta de 21 de Agosto de 1890, dirigida a Floriano Peixoto, uma das mais contundentes e irônicas da correspondência conhecida entre os dois grandes líderes militares dos primórdios da República, Deodoro deixa transparecer claramente seu aborrecimento:
Floriano, estou convencido de que todos procuram contrariar-me: mais uma cagalhada.
Na ordem do dia nº 90 vem a nomeação do alferes Carlos Baptista de Oliveira ,que é arregimentado, para oficial de ordens do comandante da Escola Militar.
Viva o ministro da Guerra
Viva o ajudante general
Viva o carnaval.
21 de agosto
O amigo velho,
Deodoro
PS.: Depois de amanhã passarei telegrama ao governador do Ceará fazendo recolher o alferes.
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Por motivos hoje esquecidos, a nomeação do alferes contrariava frontalmente os desígnios de Deodoro, talvez por tratar-se de algum desafeto. Em todo caso, ao atribuir a culpa da nomeação ao ministro da Guerra, Deodoro isenta Floriano, seu vice-presidente e compartilha com ele com grande franqueza sua frustração no exercício do poder. Muito além da palavra chula, é evidentemente a expressão “Viva o carnaval” que soa particularmente significativa, pois revela a profunda consciência que tinha o Marechal Deodoro, nove meses depois da proclamação da República, da ampla confusão que reinava na nova administração pública brasileira.
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