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questões ambientais

Desmatamento de sobra, emprego de menos

Na Amazônia Legal, devastação da floresta e baixos índices sociais e econômicos andam juntos; plataforma interativa reúne dados sobre a região

Emily Almeida e Vitória Pilar | 17 fev 2022_20h53
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A vontade de Bruno Eduardo da Silva, 18, era ser jogador de futebol. Durante o ensino médio, o jovem sempre se destacava nos jogos escolares, driblando os rivais, chutando a bola e mirando no gol. A agilidade nos gramados lhe deu o apelido de Bolt – em homenagem ao velocista jamaicano Usain Bolt. Em 2020, quando a pandemia de Covid começou a ser anunciada nas ruas do bairro conjunto Esperança 3, em Rio Branco (AC), o sonho de Silva foi ficando pequeno diante das dificuldades da vida real. A escola, sem aulas – suspensas pela pandemia –, atrasou em um ano a formatura do rapaz no ensino médio.

Com o diploma nas mãos, em dezembro de 2021, ele encarou as ruas da capital acreana atrás de emprego. As opções eram poucas: frentista, atendente em mercados e supermercados ou porteiro – e nenhuma deu certo. Fora do curso de educação física – onde imaginou que estaria quando começou 2022 – e sem trabalho, o rapaz passa todos os fins de tarde jogando bola em um campinho perto de casa, na esperança de ser o próximo menino de ouro do futebol brasileiro. “Só não quero ficar sem trabalhar, ou parado de vez. Desistir é que não vou”, conta à piauí. Silva faz parte dos milhares de jovens da Amazônia Legal que não trabalham nem estudam – os chamados “nem-nem”. Historicamente, a taxa de jovens nessa situação é maior nessa região do que no restante do país. Em 2021, a taxa dos que não trabalhavam nem estudavam, na faixa etária dos 18 aos 24 anos, foi de 35% na Amazônia Legal – 5 pontos percentuais a mais que a média registrada entre os demais estados do país.

Esse número esconde uma realidade mais ampla: apesar do alto desmatamento, os índices de desenvolvimento da região são baixos. Dados do IPS Amazônia 2021 – que mede o índice de progresso social de municípios e estados – mostram que a destruição da floresta amazônica está intimamente relacionada ao baixo desenvolvimento. Os vinte municípios com as maiores áreas desmatadas nos últimos três anos tiveram IPS médio de 52,4 – 21% menor que o índice de todo o Brasil, de 63,3. O pesquisador Beto Veríssimo, cofundador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e coordenador do IPS Amazônia, alerta para esses danos. “O desmatamento não compensa. A gente já sabia que não compensava do ponto de vista econômico e ambiental, mas também não compensa do ponto de vista social”, diz. “Todos esses municípios campeões de desmatamento também são, infelizmente, campeões da pobreza, da desigualdade e do baixo progresso social.”

 

Lançada hoje (17), a plataforma Data Zoom Amazônia ajuda a compreender, a partir da visualização de dados, números e problemas da região. O site reúne bases de diferentes fontes, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Imazon e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), permitindo o cruzamento de informações para visualização gráfica interativa. Integra o projeto Data Zoom, desenvolvido pelo Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), que inicialmente permitia a leitura de microdados de pesquisas domiciliares do IBGE. Também faz parte do projeto Amazônia 2030, iniciativa de pesquisadores brasileiros que visa criar um planejamento de desenvolvimento sustentável para a região – até 2022, serão publicados quarenta relatórios técnicos sobre questões chaves para atingir esse objetivo.

O Data Zoom Amazônia é subdividido em três seções: meio ambiente, economia e social, que se subdividem em outros quatro tópicos: desmatamento, comércio exterior, mercado de trabalho e desenvolvimento. O gráfico abaixo mostra a relação entre área desmatada (eixo horizontal) e PIB per capita (eixo vertical), considerando estado (identificado por cor) e população (pelo tamanho dos círculos). O município que se encontra mais à direita e, portanto, teve a maior área desmatada no ano indicado, é São Félix do Xingu (PA). Ainda assim, seu PIB passa longe de estar entre os maiores. A área desmatada, por sua vez, é onze vezes a verificada em Canaã dos Carajás (PA), município com o maior PIB da Amazônia Legal. 

 

Entre 2019 e 2021, a taxa de ocupação na Amazônia Legal caiu de 52% para 42%. A região emprega relativamente mais trabalhadores nos setores da agropecuária que nos de indústria e serviços – e chega a empregar quatro vezes mais trabalhadores no ramo de produção florestal, sempre com baixos níveis de emprego formal. É justamente a informalidade que dá o tom do modelo trabalhista da região da Amazônia Legal. Segundo o pesquisador do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro Gustavo Gonzaga, diante da falta de empregos formais, o que resta são atividades sem acesso aos benefícios trabalhistas, como 13° salário, licença-maternidade, jornada regular de trabalho. 

No conjunto da população, a taxa de informalidade na Amazônia Legal é quase vinte pontos percentuais acima da registrada no resto do país. Em 2019, a Amazônia apontava mais de 65% dos jovens em situação de informalidade, enquanto o restante do Brasil chegava a 45%. Em 2021, os números se mantiveram. 

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