Tanto a sessão de “Juventude em marcha” (2006), quanto a conversa com Pedro Costa, lotaram na sexta feira, no CCBB do Rio. E como comentei quando da retrospectiva Ozu, o público continua sendo torturado, obrigado pelo CCBB a fazer horas de fila sem nenhuma garantia de que conseguirá entrar. "> Despedida de Pedro Costa
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Despedida de Pedro Costa

Tanto a sessão de “Juventude em marcha” (2006), quanto a conversa com Pedro Costa, lotaram na sexta feira, no CCBB do Rio. E como comentei quando da retrospectiva Ozu, o público continua sendo torturado, obrigado pelo CCBB a fazer horas de fila sem nenhuma garantia de que conseguirá entrar. 

| 22 set 2010_09h55
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Tanto a sessão de “Juventude em marcha” (2006), quanto a conversa com Pedro Costa, lotaram na sexta feira, no CCBB do Rio. E como comentei quando da retrospectiva Ozu, o público continua sendo torturado, obrigado pelo CCBB a fazer horas de fila sem nenhuma garantia de que conseguirá entrar.

Pedro Costa respondeu com tranquilidade a todas as perguntas, por mais que tenham sido, de maneira geral, as mesmas feitas em outros eventos semelhantes e cujas transcrições estão disponíveis em mais de uma publicação. Desconhecendo esses textos, os participantes desafiaram a paciência do diretor durante mais de duas horas e ele não se incomodou em falar longamente de si mesmo.

Dando impressão de modéstia e integridade, Pedro Costa falou da sua relação com Manoel de Oliveira; dos 40 anos de maldades feitos a Portugal pelo regime salazarista, que deixaram o país num estado de miséria moral; do orgulho do país que sentiu pela primeira vez ao ver “Trás-os-Montes” (1976), de Antonio Reis, filme que lhe “abriu uma janela” e o fez persistir no cinema; do fato de sempre ter feito a câmera dos seus filmes, mesmo antes de “No Quarto da Vanda” etc.

Disse também: “O que me interessa é ter uma experiência plástica, viver as formas.”; “Quando cheguei ao bairro de Fontainhas o que estava à frente era mais forte do que eu”; “Minha intenção era ficar em Fontainhas. Coloquei meu projeto de vida em risco.”; “Eu não estava ali para fazer um documentário sobre a miséria de Fontainhas.”; “Passava os dias em Fontainhas, mesmo quando não filmava. Abria minha loja. Punha o tripé. Acredito que o cinema pode ser como as outras profissões. É tão duro ou tão chato quanto trabalhar em um bar.”; “Como disse Truffaut, é preciso ser meio idiota, estúpido, inocente, para passar semanas de filmagem diante de pessoas que se dizem ‘eu te amo’”; “Não sei como um cineasta ousa hoje em dia filmar o mar, as montanhas e por Mozart ao fundo.”; “Antonioni disse que uma parede pode ser espetacular.”; “As pessoas que fazem filmes tem muito pouco interesse por cinema.”; “O cinema não é caro, há muito desperdício.” Etc.

Sei que tudo isso pode ser misterioso para quem não viu os filmes de Pedro Costa, que são de acesso difícil e foram pouco vistos. Só o que posso fazer é recomendar os DVDs editados nos Estados Unidos, na França e em Portugal.

A retrospectiva “O cinema de Pedro Costa” continua esta semana no Rio e em Brasília.

Não falarei mais dele por algum tempo, prometo.

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