Drummond concreto
A peça reproduzida nesta página é um belo exemplo dos poemas de circunstância que Drummond tinha prazer em mandar aos amigos com mensagens carinhosas escritas em vários tons de caneta hidrocor, à guisa de cartão de Natal ou de aniversário (ou mesmo com linhas amorosas para suas namoradas).
A peça reproduzida nesta página é um belo exemplo dos poemas de circunstância que Drummond tinha prazer em mandar aos amigos com mensagens carinhosas escritas em vários tons de caneta hidrocor, à guisa de cartão de Natal ou de aniversário (ou mesmo com linhas amorosas para suas namoradas).
Os poemas circunstanciais tendem a ser vistos pela crítica como peças efêmeras ou como gênero menor. Por isso, não há estudos alentados que tratem dos versos de circunstância cometidos por nossos maiores poetas, às vezes à altura do melhor de sua obra.
Os próprios poetas não desprezavam essa fração ocasional de sua produção.
Manuel Bandeira reuniu vários versos do tipo em seu , e o próprio Drummond juntou alguns em Viola de Bolso.
A tradição vinha da poesia francesa dos anos 1870 a 1920, com Mallarmé e Valéry, e teve no Brasil, além de Bandeira e Drummond, praticantes ilustres como Vinicius de Moraes e Murilo Mendes. O próprio Machado de Assis, no começo do século XX, costumava deixar tais versos nos álbuns que moças lhe submetiam para autógrafo, alguns dos quais permanecem inéditos.
Este poema de Drummond, que serve de mensagem de Natal para seu amigo Carlos Alberto Passos, é interessante por trazer um sentido algo mitológico com palavras soltas que tendem para a exaltação da luz, do alvor. Mandado em dezembro, com votos de ano bom, desejos de felicidade e beleza, o poema evoca ninfas dos rios e outras figuras ou temas mitológicos, além das palavras Natal e Ano Novo inseridas na sequência das duas grandes iniciais coloridas.
Sem nenhuma pretensão, Drummond surpreende ao escolher uma forma concreta que dá ao poema, em sua elaborada caligrafia, um atrativo visual inegável.
Talvez seja ainda melhor como poema de Drummond que como poesia concretista tardia, mas é claramente um texto que se quer inserido apenas no espaço da intimidade do poeta, e de seu amigo, sem intenção de divulgação ou publicação.
Passos, colecionador de manuscritos dos modernistas, trocou esse poema com um colecionador paulistano nos anos 1980, e nas décadas seguintes o manuscrito passou por duas coleções prestigiosas. Acaba de ser adquirido num leilão na Europa por seu atual detentor.
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