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Eduardo Paes – prefeito deslumbrado
Na entrevista ao Globo, publicada domingo, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, revela ser um deslumbrado de personalidade autocrática, disfarçado de democrata, e reafirma sua disposição em transformar a cidade em backlot (terreno de fundo) de produções estrangeiras.
Paes declara querer que Woody Allen faça um filme no Rio e diz ter feito “de tudo” para isso, declarando-se disposto a dar “os milhões que o Woody pedir” e a pagar “100% da produção”.
Na entrevista ao , publicada domingo, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, revela ser um deslumbrado de personalidade autocrática, disfarçado de democrata, e reafirma sua disposição em transformar a cidade em backlot (terreno de fundo) de produções estrangeiras.
Paes declara querer que Woody Allen faça um filme no Rio e diz ter feito “de tudo” para isso, declarando-se disposto a dar “os milhões que o Woody pedir” e a pagar “100% da produção”.
Se o prefeito sonha tirar uma fotografia ao lado de Woody Allen é assunto dele. Ninguém tem nada a ver com isso. Mas o custo da foto parece um tanto alto e o benefício para o turismo algo duvidoso. Sem falar que a iniciativa, voltada supostamente para divulgar a imagem do Rio, deveria estar no âmbito da Secretaria Especial de Turismo e não da Secretaria de Cultura e da RioFilme, cujas ações deveriam ser pautadas por critérios culturais e artísticos.
Atrair produções estrangeiras, oferecendo vantagens para filmarem no Rio, política praticada pela RioFilme desde o primeiro mandato de Eduardo Paes, na verdade traz poucos benefícios para a produção audiovisual da cidade. Mesmo se gastos forem feitos com recursos próprios, e não apenas com os da prefeitura, não chegam a representar aporte significativo para a economia do setor. Os empregos gerados, equipamentos locados e serviços prestados são pouco relevantes. Mais importante do que a hipotética injeção de recursos que acaba sendo, em grande parte, ilusória, são os conhecidos malefícios causados por essa política. O prefeito deveria se informar sobre o caso da Itália, comentado neste blog, país no qual os subsídios dados aos investimentos americanos, principalmente a partir da década de 1970, foram uma das principais causas que levaram à liquidação do cinema nacional italiano.
O uso recorrente da primeira pessoa do singular deixa transparecer a personalidade autocrática de Paes, comprovada com a declaração de que a categoria do audiovisual não teria o que reclamar por ter sido “colocada uma fortuna na RioFilme, R$ 50 milhões neste ano”. Em outros termos, o prefeito demonstra a baixa conta em que tem os profissionais do setor, considerando ter comprado a aprovação deles em troca do que diz ser “uma fortuna”. Produtores, diretores, técnicos e atores, segundo Eduardo Paes, teriam aberto mão, por trinta moedas, do direito de criticar.
Que Paes declare isso publicamente é por si só espantoso. Mais grave, porém, é passar ao largo das carências da Secretaria de Cultura e da RioFilme, subordinadas por ele a uma lógica economicista em prejuízo de suas verdadeiras finalidades de caráter cultural.
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