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    O presidente salvadorenho Nayib Bukele cercado de militares Foto: Divulgação/Governo de El Salvador

anais do autoritarismo

El Salvador, o farol bolsonarista

Como a autocracia do país centro-americano tem inspirado os filhos de Bolsonaro

| 17 jan 2022_18h36
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O Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) noticiou, na última sexta-feira (14), que dezenas de jornalistas de El Salvador tiveram seus celulares invadidos pelo Pegasus, um poderoso software de espionagem. Metade da redação do site de notícias El Faro foi hackeada sem saber entre 2020 e 2021. Entre os alvos do ataque estavam repórteres que investigavam o governo do presidente Nayib Bukele, um jovem autocrata admirado pela família Bolsonaro e que vem minando a democracia salvadorenha. Naturalmente, as suspeitas recaíram sobre Bukele, já que o Pegasus – ferramenta criada pela empresa israelense NSO Group – é vendido somente para governos nacionais.

O exemplo de El Salvador parece ter inspirado o governo brasileiro. Dias depois dessa descoberta vir à tona, uma reportagem do UOL revelou que um integrante da comitiva presidencial de Jair Bolsonaro tentou negociar a compra de um software de espionagem chamado DarkMatter. A notícia, publicada nesta segunda-feira (17), informa que esse funcionário do governo – cujo nome não foi revelado – é um perito em inteligência e contrainteligência que responde ao Gabinete do Ódio e, mais especificamente, ao chefe dessa turma, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). A tentativa de compra aconteceu durante a última visita de Bolsonaro aos Emirados Árabes, em novembro.

Poucos meses antes, Carlos já havia tentado trazer para o Brasil o Pegasus, conforme revelou outra reportagem do UOL, publicada no ano passado. O filho de Bolsonaro pressionou o Ministério da Justiça a abrir uma licitação para comprar o software de espionagem. Os motivos da pressão de Carlos não foram revelados, mas nem os integrantes da comunidade de informações no governo, liderada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), gostaram da tentativa do filho do presidente de ocupar espaço no aparato secreto do Estado. Depois que o caso chegou a público, o escritório que representa o NSO Group no Brasil abandonou a licitação

DarkMatter, a bola da vez, cumpre os mesmos objetivos que o Pegasus, seu concorrente mais famoso: é capaz de invadir computadores e celulares mesmo quando os aparelhos estão desligados. Ao hackear um smartphone, ele pode roubar mensagens, fotos, vídeos, contatos e monitorar ligações, além de acionar o microfone. Ambos são ferramentas perigosas que podem ser usadas com fins de perseguição política. Recentemente, uma investigação conduzida por dezessete veículos de imprensa, entre eles The Washington Post e The Guardian, revelou que jornalistas de ao menos 45 países já foram espionados pelo Pegasus.

Essa não é a primeira vez que El Salvador serve como um farol para a família Bolsonaro. Em maio do ano passado, o Congresso salvadorenho, formado majoritariamente por governistas, destituiu numa tacada só cinco juízes da Suprema Corte, que vinha servindo de anteparo institucional diante das ações autoritárias do presidente. Outros juízes mais afinados com o governo foram indicados para ocupar as cinco vagas. A medida foi duramente criticada pela comunidade internacional. Em seu Twitter, Bukele respondeu aos críticos com desprezo: “Estamos limpando nossa casa… e isso não é da incumbência de vocês”.

Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), contente, compartilhou o tuíte do presidente salvadorenho. Ao comentá-lo, deixou claro que deseja o mesmo futuro para o Brasil – no caso, a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal. Segundo o deputado, o que aconteceu em El Salvador foi “tudo constitucional” – a expressão “dentro das quatro linhas da Constituição” ainda não tinha sido popularizada pelo presidente. “Juízes julgam casos, se quiserem ditar políticas que saiam às ruas para se elegerem”, argumentou o filho de Bolsonaro.

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