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    Bolsonaro divide palanque com apoiadores e outros políticos na orla de Copacabana durante o Sete de Setembro / Foto: Paulo Carneiro/Photo Press/Folhapress

questões eleitorais

“Aqui é direita, porra!”

Além de Jair Bolsonaro, outros candidatos aproveitaram o Sete de Setembro para fazer campanha na orla de Copacabana

Allan de Abreu, Thallys Braga e Thais Bilenky | 07 set 2022_22h41
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O espaço mais alto do caminhão de som parecia pequeno para a empolgação do empresário Luciano Hang na tarde desta quarta-feira, 7, em Copacabana, na Zona Sul carioca. Com o habitual traje verde-amarelo, o dono da rede de lojas Havan corria de um lado a outro, subia na grade de proteção e agitava os braços. “Este, sim, é patriota de verdade”, ouvia-se entre a multidão bolsonarista que se espalhava pela Avenida Atlântica, à beira-mar. Uma senhora comentou, aos risos: “Chamam o cara de Véio da Havan,  mas ele só tem 59 anos. Como são burros!” Bandeiras do Brasil tremulavam nas janelas de alguns prédios. Na varanda do hotel Emiliano Rio, uma mulher loira, de óculos escuros e roupão branco, acenava sorridente para a trupe do presidente Jair Bolsonaro (PL). 

O que deveria ser uma comemoração apartidária pelos duzentos anos da independência brasileira transformou-se num palanque eleitoral. Além de Hang e Bolsonaro, que escondia um colete à prova de balas sob a jaqueta preta, dividiam o palco o governador fluminense Cláudio Castro (PL), candidato à reeleição, o ex-ministro da Casa Civil Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa do presidente, e o pastor Silas Malafaia, que providenciou o caminhão de som. Também passaram pelo local o senador Flávio Bolsonaro (PL), o deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB), que tenta a reeleição, e o deputado federal Daniel Silveira (PTB), cuja candidatura ao Senado foi barrada pela Justiça eleitoral do Rio de Janeiro, já que o Supremo Tribunal Federal (STF) havia condenado o parlamentar por ataques às instituições democráticas. Castro, Braga Netto e Malafaia discursaram.

Diferentemente do que ocorreu no Sete de Setembro de 2021, dessa vez Bolsonaro evitou criticar o STF de maneira direta e não mencionou nenhuma desconfiança em relação às urnas eletrônicas. Preferiu atacar o rival Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e lembrar os escândalos de corrupção nos governos do PT. “Não sou muito bem educado, falo palavrões, mas não sou ladrão.” O presidente ainda disse que a esquerda deveria “ser extirpada da vida pública”. Ao final, ganhou um efusivo abraço de Hang.

O locutor de rodeio Cuiabano Lima, de Barretos (SP), foi o mestre de cerimônia. Entre gritos de “seguuuura, capitão!”, comandou a execução do hino nacional e puxou um pai-nosso, enquanto Malafaia comparava Lula ao demônio. Em contraste com o pastor, Braga Netto e Cláudio Castro não empolgaram a multidão com seus discursos. “Só voto nele por falta de opção”, comentou um homem, referindo-se a Castro.

 Cartazes em tom golpista se espalhavam pela avenida, mas em quantidade inferior à de outras manifestações bolsonaristas. Uns pediam intervenção militar no Judiciário (“Bolsonaro, acione as Forças Armadas e limpe o STF e o TSE!”). Outros clamavam por “voto auditável com conferência pública” ou fustigavam a imprensa (“o jornalismo profissional morreu”). Bandeiras nacionais eram vendidas por 2,50 reais. Já adesivos “à prova d ‘água”, com elogios ao presidente ou ofensas a seus adversários, custavam 1 real. Espetinhos de churrasco saíam por 10 reais e três cervejas, por 15. Guindastes ostentavam grandes bandeiras do Brasil a cada 200 metros.

Manifestantes bolsonaristas na Avenida Atlântica/ Foto: Allan de Abreu

Chegar à orla de Copacabana exigia paciência. O trânsito estava tão lento quanto o fluxo de passageiros na saída do metrô. Para percorrer a estação Cantagalo, a mais próxima de onde Bolsonaro discursou, demorava-se até vinte minutos. A cada 100 metros da Avenida Atlântica, um trio elétrico agitava os manifestantes com jingles bolsonaristas em ritmo de piseiro, funk e até gospel.  O único vermelho permitido era o das camisas do Flamengo.


Um grupo de homens subiu numa estação de tratamento da Águas do Rio para gritar “mito”. Abaixo deles, fãs do presidente erguiam bandeiras de vários candidatos locais, como Fabrício Queiroz, que disputa uma vaga na Assembleia Legislativa pelo PTB. Ele é acusado de operar um esquema de rachadinha no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro entre 2007 e 2018.

No entorno da orla, os bares e restaurantes estavam abarrotados de gente que usava verde, azul e amarelo. A maioria dos clientes era branca e de meia-idade, mas havia um bom número de idosos e crianças de colo. Devido à aglomeração, muitas pessoas passaram mal na avenida e tiveram de ser socorridas pelos bombeiros. Um pouco antes dos discursos eleitorais, um homem corpulento, empoleirado no carro de som em que Bolsonaro apareceu, gritava contra ladrões que estariam furtando carteiras e celulares: “Seu rato imundo de esquerda, nós vamos te pegar de jeito! Aqui é direita, porra!” Enquanto isso, um homem apontava para os manifestantes e perguntava:  “Como podem dizer que o Lula lidera as pesquisas?”

Admiradores de Bolsonaro subiram numa estação de tratamento de água durante a manifestação em Copacabana / Foto: Thallys Braga

Na Avenida Paulista, um grupo de brasileiros com roupas de cowboy americano – nas cores verde e amarelo, claro – se juntou à multidão para pedir, em inglês, voto impresso, intervenção das Forças Armadas e golpe no Supremo. Alguns dos presentes riam de fotos dos ministros do STF coladas em sacos de lixo ou em réplicas de caixões. Outros brandiam as espadas de mentira, cobertas de sangue falso, que tinham comprado dos camelôs.

Sem o presidente, o Sete de Setembro em São Paulo contou com o discurso de Tarcísio de Freitas, candidato bolsonarista ao governo do estado pelo Republicanos. No pronunciamento de aproximadamente cinco minutos, ele homenageou dom Pedro I, a imperatriz Leopoldina e José Bonifácio, o Patriarca da Independência. “A gente hoje está de verde e amarelo e não é por causa da Copa, não”, bradou. Os manifestantes reagiram com frieza. Empolgaram-se mais quando, durante o discurso, uma fumaça naquelas cores brotou do alto de um prédio.