minha conta a revista fazer logout faça seu login assinaturas a revista
piauí jogos

    Eleitores com máscara de Lula: pesquisas mostram parte do eleitorado do petista, por medo ou autocensura, esconde o voto - CRÉDITO: LUIS PEDRUCO/FUTURA PRESS/FOLHAPRESS

questões políticas

Entre o voto envergonhado e o voto amedrontado

Pesquisas mostram que são os eleitores de Lula que mais escondem a sua preferência, sobretudo por medo

Felipe Nunes e Frederico Batista | 20 set 2022_17h18
A+ A- A

Analistas do processo eleitoral brasileiro têm aventado a hipótese de que exista um apoio “envergonhado” de certos eleitores aos seus candidatos à Presidência, algo que estaria sendo captado por pesquisas de opinião. Cogita-se especificamente que, devido ao extremismo ideológico e às declarações e atitudes controversas do presidente Jair Bolsonaro, parte de seus eleitores se sentiria envergonhada de manifestar publicamente sua preferência pelo candidato. Neste texto demonstramos, por meio de pesquisas, que não são os eleitores de Bolsonaro, mas os de Lula que mais omitem publicamente a sua preferência. Trata-se, em parte, de um voto “envergonhado” (no sentido moral), mas sobretudo de um voto amedrontado, pois eles temem ser vítimas de assédio ou mesmo de violência.

Defensores da tese do voto “envergonhado” geralmente recorrem a dois exemplos notáveis. O primeiro é a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos em 2016. Como se sabe que as pesquisas de opinião antes do pleito subestimaram os votos em Trump, dando a ele apenas 10% de chance de vitória, argumenta-se que a explicação para esse erro foi o suposto voto “envergonhado” entre seus apoiadores. O segundo exemplo diz respeito ao que se passou com Bolsonaro nas eleições de 2018. As principais pesquisas de opinião publicadas em 6 de outubro daquele ano, sábado, um dia antes do primeiro turno, mostravam Bolsonaro com 36% das intenções de voto. No entanto, ele teve 42% dos votos totais, o que para muitos seria um erro nas pesquisas.

Nos dois exemplos, porém, as evidências a favor do voto “envergonhado” são limitadas. No caso de Trump, foram as mudanças de intenção de voto às vésperas do pleito que explicam a ascensão do candidato. Além disso, as pesquisas que utilizaram questionários autoaplicados – respondidos pelo próprio entrevistado em uma plataforma na internet e nos quais o eleitorado de Trump não precisaria ter vergonha de explicitar sua preferência – não mostraram maior apoio ao candidato do que as que recorreram a entrevistadores (por telefone ou face a face).

No Brasil, as mesmas pesquisas que anunciaram 6% de votos a menos para Bolsonaro na véspera da eleição também indicaram Fernando Haddad com   pontos percentuais abaixo de sua votação final. Sendo assim, o que se observou no Brasil – consistente com a evidência obtida no caso de Trump em 2016 – foi a mudança tardia nas decisões de voto, e não um voto “envergonhado”. Além disso, as pesquisas de boca de urna realizadas pelos mesmos institutos no dia da votação captaram corretamente as votações de Bolsonaro e Haddad. Ora, se os entrevistados deixaram de declarar o voto no sábado por vergonha, por que perderiam tal vergonha ao responder à mesma pergunta no domingo? Ao que parece, o suposto “erro” das pesquisas no sábado poderia ser mais bem explicado pelo chamado voto útil, no qual os eleitores de candidatos menos competitivos mudam seus votos para os mais competitivos quando percebem, na véspera da eleição, que o seu candidato favorito não tem chances.

Seja como for, a falta de evidências sobre o voto “envergonhado” em outras ocasiões não elimina a hipótese de que isso poderia estar ocorrendo no atual contexto brasileiro. Mas, como Bolsonaro está em segundo lugar nas pesquisas e mobiliza grande apoio nas ruas e redes sociais, será o caso de supor que parte de seu eleitorado está escondendo a sua verdadeira preferência?

Para investigar essa questão, descrevemos aqui três estratégias de pesquisa distintas e complementares, mobilizadas para trazer evidências sobre se haveria ou não voto “envergonhado” nas eleições deste ano. De modo geral, o conjunto dessas evidências contraria a tese do voto “envergonhado” em Bolsonaro. Caso ocorra, ele tende a beneficiar Lula.

A primeira estratégia foi inspirada no trabalho de Lilia Schwarcz sobre o racismo brasileiro[1]. A autora conduziu uma pesquisa de opinião na qual perguntava às pessoas se elas tinham preconceito racial e se conheciam pessoas preconceituosas. Não mais do que 3% dos entrevistados se mostraram abertamente preconceituosos, enquanto 98% disseram conhecer pessoas preconceituosas, referindo-se especificamente a amigos, parentes e vizinhos. A evidência sugere, portanto, que as pessoas se envergonham de admitir uma opinião que tende a ser reprovada publicamente, mas indicam estar cercadas por pessoas que têm tal opinião (fenômeno conhecido como “resposta com viés de desejabilidade social”).

Seguindo esse modelo, perguntamos na rodada de junho passado das pesquisas Genial-Quaest em quem o entrevistado achava que a maioria dos seus familiares, amigos e conhecidos votaria para presidente. Se as respostas envergonhadas de intenção de voto seguissem uma lógica similar às do exemplo sobre o racismo, o candidato-alvo do voto “envergonhado” seria mais citado na pergunta sobre em quem votariam os conhecidos do entrevistado do que na pergunta sobre a intenção de voto da própria pessoa entrevistada.

À época, Lula e Bolsonaro apareciam com 46% e 30% das intenções de voto, respectivamente. Na pergunta sobre o voto dos conhecidos, Lula foi a resposta de 51% dos entrevistados, e Bolsonaro, de 32%. Ou seja, há um aumento do “apoio” a Lula de 5 pontos percentuais na comparação entre as duas perguntas, número superior aos 2 pontos percentuais de Bolsonaro. Ainda que indireta, a evidência encontrada favorece o voto “envergonhado” em Lula, não em Bolsonaro.

Na segunda estratégia de pesquisa, recorremos a uma técnica amplamente utilizada para detectar quando os entrevistados podem estar escondendo suas reais opiniões: o experimento de lista. Nessa técnica os entrevistados são divididos aleatoriamente em dois grupos: um de controle, outro de tratamento.

Ao grupo de controle é apresentada uma lista curta de objetos ou opiniões, e pede-se que o entrevistado indique quantos deles gosta (ou com quantos concorda), sem ter que dizer quais deles mais gosta (ou com os quais mais concorda).

O grupo de tratamento recebe a mesma lista de itens considerados inócuos, mas acrescida de um elemento potencialmente impopular ou embaraçoso, para apontar também quantos deles gosta ou com quantos concorda. Para saber qual é o nível de apoio ao item impopular da lista, basta comparar as médias do número de itens que um e outro grupo indicaram gostar. Caso a diferença entre eles seja maior do que o percentual indicado na pergunta de intenção de voto feita diretamente, tem-se a evidência de preferências escondidas ou falsificadas.

O professor de ciência política Alexander Coppock utilizou um experimento de lista para tentar capturar o voto “envergonhado” em Trump em 2016.[2] O resultado: a estimativa de voto em Trump usando esse método foi mais baixa do que a estimativa obtida pela pergunta convencional de intenção de voto. Ou seja, não houve qualquer indício de voto “envergonhado” em Trump.

O que um experimento de lista revelaria sobre o suposto voto “envergonhado” em Bolsonaro? Na rodada de abril passado da pesquisa Genial-Quaest, utilizamos esse método para tentar responder à pergunta. O grupo de controle recebeu uma lista de frases inócuas (se prefere gato ou cachorro, futebol ou vôlei, feriado na praia ou em casa etc.), enquanto o grupo de tratamento recebeu, além dessas, a frase: “Eu prefiro que Bolsonaro vença a eleição deste ano.”

Utilizamos essa frase para compararmos com outra, oferecida como opção de resposta, em uma pesquisa sobre quem o entrevistado preferia que vencesse as eleições deste ano. Naquele momento, 31% dos entrevistados expressavam abertamente preferência por Bolsonaro. O experimento de lista indicou que 30,7% dos entrevistados preferiam Bolsonaro como vencedor. Ou seja, os resultados seguem um padrão igual ao do estudo de Coppock sobre Trump, indicando não haver voto “envergonhado” em Bolsonaro em 2022.

O mesmo experimento foi feito agora em setembro, com esta frase acrescida no grupo de tratamento: “Eu prefiro que Lula vença a eleição deste ano.” Enquanto 41,8% dos entrevistados expressaram abertamente preferência pela vitória do Lula na pesquisa de intenção de voto, o experimento de lista mostrou que 42,8% preferem que o candidato do PT seja presidente outra vez. O aumento de 1 ponto percentual favorece a tese de que, se houver voto “envergonhado” nesta eleição, ele tem mais chances de ser do eleitor de Lula do que do de Bolsonaro.

A terceira estratégia foi uma combinação da lógica de pesquisa experimental (com grupos de tratamento e controle) com a técnica qualitativa conhecida como grupo focal. Os grupos focais consistem em conversas entre participantes (em geral, entre cinco e dez), conduzidas por um moderador. O objetivo é observar como as pessoas verbalizam suas opiniões e narrativas e como interagem ao falar de um dado assunto.

Em meados de agosto, conduzimos catorze grupos focais sobre a eleição. Para cada grupo, foram convidadas três pessoas que declararam (em formulário prévio) voto em Bolsonaro e três que declararam voto em Lula. Em cada grupo também incluímos um ator que se passava por participante.

Para investigarmos a dinâmica do voto “envergonhado”, dividimos os catorze grupos focais em dois tipos (com sete grupos em cada tipo). No primeiro, o moderador começava perguntando aos eleitores de Bolsonaro, em sequência, em qual candidato cada um votaria na eleição. Observamos um padrão recorrente nesses sete grupos focais: os três eleitores de Bolsonaro prontamente indicavam sua preferência pelo candidato. Em seguida, o moderador pedia ao ator que indicasse sua preferência. E o ator se dizia indeciso, seguindo instruções dos pesquisadores. Ou seja, nesse momento, formava-se a impressão dentro do grupo de que os eleitores de Bolsonaro poderiam ser maioria na sala. Quando, em seguida, a mesma pergunta era feita aos três eleitores de Lula, observava-se a tendência de essas pessoas seguirem o ator e se mostrarem indecisas. O grupo começava, então, a discutir política, trocando impressões sobre a economia, a pandemia, o comportamento dos políticos etc. No meio da discussão, o ator (sempre instruído previamente pelos pesquisadores) revelava que na verdade tinha uma preferência por Lula.

O que se observou na maioria desses grupos foi a tendência de os eleitores de Bolsonaro tentarem convencer o ator a não votar em Lula, apresentando argumentos como: “Lula é ladrão! Como você pode votar nele?”, “Você é burro? O PT quebrou o Brasil e se voltar vai transformar isso aqui numa Venezuela”, “O PT é corrupto. Não podemos deixar essa corja voltar ao poder”.

O ator se defendia, utilizando argumentos da campanha de Lula, tais como: “O período de governo do PT foi a melhor época da minha vida”, “Lula foi preso injustamente”, “Esse Bolsonaro não dá mais” etc.

Duas dinâmicas passaram a chamar a atenção dos observadores dos grupos. Primeiro, que os eleitores que haviam declarado anteriormente voto em Lula não se manifestavam em defesa do participante-ator. Segundo, que os participantes que ainda não tinham declarado abertamente voto em Lula no grupo se mostravam incomodados com a discussão, olhavam o relógio, passavam o restante do debate mais calados e menos participativos.

​​Entre os grupos pesquisados, descobrimos outro padrão relevante. São as mulheres e os mais pobres que tendem a esconder mais os seus votos na interação social com eleitores adversários. O eleitor de Lula mais escolarizado tem menos resistência a enfrentar os eleitores de Bolsonaro. E o mesmo acontece com os homens que optaram por declarar apoio ao candidato do PT nos grupos. Se esse achado tiver validade fora dos grupos, ele pode explicar por que as diferenças de opinião entre pobres e ricos, homens e mulheres, tendem a gerar silêncio dentro de casa e nas interações de trabalho.

Ao final dessa dinâmica, voltamos a entrevistar os participantes de cada grupo separadamente e perguntamos sobre suas intenções de voto, recorrendo a um formulário em um tablet. As preferências deles não mudaram: os três eleitores de Bolsonaro seguiam com o candidato, enquanto os três eleitores de Lula, mesmo não se manifestando publicamente no grupo, continuaram declarando voto no candidato.

Nos outros sete grupos focais, o moderador iniciava perguntando sobre a preferência a cada um dos participantes que antes havia declarado voto em Lula. Em geral, quando o primeiro deles dizia sua preferência, a reação dos eleitores de Bolsonaro era a mesma dos grupos descritos anteriormente: eles expressavam de imediato sua discordância e procuravam dissuadir a pessoa de votar em Lula. Os demais eleitores de Lula do grupo não saíam em defesa do primeiro, preferindo o silêncio, quando a manifestação ocorria no início da conversa. Mais do que isso, tendiam a passar o restante do tempo no grupo sem manifestar suas opiniões sobre os assuntos discutidos. Era como se houvesse um clima contrário à livre expressão de sua preferência que os inibia.

Nesses sete grupos, o ator foi instruído a não tomar partido. O mais surpreendente é que, também nesses grupos, independentemente da dinâmica das interações, todos os participantes manifestaram a mesma preferência de voto antes e depois do debate, um formulário preenchido individualmente logo após o final da sessão.

Ou seja, nenhum participante mudou sua intenção de voto nos catorze grupos, sendo que os petistas apenas preferiram omitir publicamente sua preferência durante as conversas.

 

Esses três estudos trazem a evidência de que não há voto envergonhado em Bolsonaro. Pelo contrário, as três abordagens metodológicas sugerem que o voto nesse candidato é o mais vocalizado e declarado, o que já se evidenciou nas manifestações dos apoiadores de Bolsonaro, em suas redes sociais e grupos de WhatsApp. 

Esses resultados vão ao encontro de alguns estudos de psicologia política que mostram que, sob pressão social em assuntos de cunho moral ou socialmente indesejáveis, o comportamento mais comum e tido como mais apropriado é o silêncio ou a omissão.

Na década de 1960, a cientista política e pesquisadora Elisabeth Noelle-Neumann chamou um fenômeno parecido de “espiral do silêncio”. Ao acompanhar as eleições de 1965 na Alemanha Oriental, ela identificou uma mudança curiosa na percepção dos eleitores. As intenções de voto se mantiveram estáveis ao longo da série de pesquisas, com o Partido Social-Democrata e a União Democrata Cristã se alternando na liderança. Contudo, nas últimas semanas antes da votação ela detectou uma mudança brusca nas respostas à pergunta: “Quem vai ganhar a eleição?”

De acordo com Noelle-Neumann, na eleição daquele ano espalhou-se o sentimento de que a oposição à Ostpolitik – esforço dos governos para normalizar as relações entre a Alemanha Ocidental e a Oriental – não era abrangente ou majoritária no eleitorado. Assim, quem se opunha à Ostpolitik acabava por se sentir marginalizado e se retirava do debate público. Para a pesquisadora, tal inibição fazia com que os apoiadores dessa política parecessem ser em maior número do que realmente eram, ao passo que os opositores, menos eloquentes, davam a impressão de ser mais fracos do que de fato eram. Segundo essa tese, quando percebemos que estamos em desvantagem no debate público, tendemos a engolir nossas opiniões, escondê-las, manter silêncio até que, em um processo em espiral, nosso ponto de vista passe a dominar o cenário e nos sintamos confortáveis em participar do debate.

O padrão de interação no qual apoiadores de Lula se calam diante de eleitores de Bolsonaro apresenta características que corroboram a tese de Noelle-Neumann. O enquadramento moralista adotado por estes últimos ao falarem de Lula, com ênfase sobretudo no tema da corrupção, estaria incentivando apoiadores de Lula à autocensura. Pesquisas como as que foram feitas pelo comunicólogo Andrew Hayes, nos Estados Unidos, mostram que a percepção de um ambiente de debate hostil pode fazer com que determinadas pessoas se autocensurem. Diante da retórica enfática, moralista e frequentemente agressiva adotada por apoiadores de Bolsonaro, é possível que lulistas prefiram o silêncio.

Nossa pesquisa de setembro também traz evidências de que há outro componente capaz de explicar a não manifestação do apoio a Lula. Quando perguntados se pretendem manifestar seu voto publicamente durante a campanha, os entrevistados que declararam voto em Bolsonaro responderam “sim” com mais frequência do que os que declararam voto em Lula (26% contra 20%). O que explicaria essa diferença, que já havíamos observado em outros estudos? Na mesma pesquisa, observamos que a proporção de eleitores de Lula que acha mais perigoso expressar o voto nesta eleição do que em eleições anteriores atinge 61%, sendo que a taxa é 10 pontos percentuais menor entre os eleitores de Bolsonaro. Tanto o medo quanto a propensão à autocensura do voto são maiores entre eleitores de Lula do que entre os de Bolsonaro. Assim, além do voto “envergonhado” – em razão da incapacidade do eleitor de Lula de expressar sua preferência num ambiente de cobrança por uma posição socialmente desejável contra a corrupção –, identificamos uma autocensura causada também pelo medo de intimidação social ou mesmo de violência.

 

Na última rodada da pesquisa Genial/Quaest, publicada em 14 de setembro, observamos a diferença entre Lula e Bolsonaro diminuir para 8 pontos percentuais. Isso ocorreu por causa de uma oscilação na margem de erro das intenções de voto em Lula (foi de 44% para 42%), enquanto Bolsonaro apareceu estável, com 34% das intenções de voto. Na pergunta sobre a expectativa de vitória, Lula aparece com 49% e Bolsonaro com 37%  – uma diferença de 12 pontos percentuais. Ou seja, embora o cenário econômico e de campanha sejam favoráveis a Bolsonaro, o ex-presidente ainda mantém a dianteira. A surpresa na reta final da campanha pode vir desses eleitores, que talvez abandonem o silêncio e se sintam menos ameaçados, a partir do momento que perceberem que a opinião pública está se inclinando de maneira geral para o lado de seu candidato.

*

[1] Questão racial no Brasil, publicado no livro Negras imagens: Ensaios sobre Cultura e Escravidão no Brasil, organizado por Lilia Schwarcz e Leticia Vidor de Sousa Reis (Edusp).

[2] Coppock apresentou a pesquisa em 2017 no texto Did shy Trump supporters bias the 2016 polls? Evidence from a nationally-representative list experiment (Os eleitores envergonhados de Trump influenciaram as pesquisas de 2016? Evidência de um experimento de lista com representatividade nacional), publicado na revista Statistics, Politics and Policy, 8 (1).