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    Convenção nacional do Republicanos para oficializar Tarcísio de Freitas como candidato ao governo de São Paulo / Foto: Danilo Verpa/Folhapress

questões eleitorais

O bolsonarismo conquista São Paulo

Apesar de colecionar derrotas, presidente elege seu herdeiro político no estado mais populoso do país

Camille Lichotti | 31 out 2022_07h30
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O projeto bolsonarista saiu vitorioso em São Paulo, o estado mais rico e populoso do Brasil. Apesar da derrota de Jair Bolsonaro à presidência, seu ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi eleito governador, confirmando o favoritismo mostrado nas pesquisas mais recentes. No último debate na tevê, ele e o petista Fernando Haddad nacionalizaram as discussões e deixaram as pautas estaduais em segundo plano. O resultado deste domingo em São Paulo consolida o ex-ministro como principal herdeiro do bolsonarismo. Na avaliação do cientista político Cláudio Couto, a rejeição ao PT e o apoio do presidente deram tração à candidatura de Tarcísio, que se transformou no candidato das elites e surpreendeu na reta final da campanha.


Embora ele tenha tentado se vender como um quadro técnico e se afastar da linha ideológica do governo federal, os especialistas avaliam que não é possível prever como será seu mandato em São Paulo. “O grau de dependência do Tarcísio ao Bolsonaro é muito grande”, disse o cientista político Marcos Nobre, presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), em entrevista ao Foro de Teresina Ao Vivo na noite deste domingo. Na opinião dele, o bolsonarismo ainda continuará forte no país. Para a cientista política Camila Rocha, o que está em jogo agora é a continuidade ou não do movimento de extrema-direita no sistema político brasileiro. “Como os candidatos apoiados por Bolsonaro vão se comportar depois de eleitos? Continuarão apostando na pauta ideológica do bolsonarismo ou irão abandoná-la?”, questionou ela, também no Foro. “O extremismo não pode fazer parte do jogo político. A direita tem de barrá-lo. Mas até o momento não vi nenhuma liderança de direita mais relevante, que dispute cargos políticos, agir assim.”


Ainda que tenha ficado fora do segundo turno em São Paulo, tradicional reduto tucano, o PSDB ganhou sobrevida. O partido elegeu três dos quatro governadores que concorriam neste domingo: no Rio Grande do Sul, em Pernambuco e no Mato Grosso do Sul. Em Pernambuco, Raquel Lyra conquistou uma vitória histórica, colocando a legenda pela primeira vez no comando estadual. No Rio Grande de Sul, Eduardo Leite, que saiu do primeiro turno em segundo lugar, conseguiu melhorar seu desempenho ao longo das últimas semanas e foi reeleito (ele venceu em 2018, mas se afastou do cargo de governador para tentar se candidatar à presidência). O resultado do pleito gaúcho, com a derrota do ex-ministro Onyx Lorenzoni, representa uma derrocada do projeto bolsonarista no quinto maior colégio eleitoral do país.   


O bolsonarismo também naufragou em outros lugares. Pelo menos oito estados tiveram candidatos apoiados por Lula ou que enfrentavam representantes de Bolsonaro. Em seis deles, como Rondônia e Mato Grosso do Sul, a oposição ao projeto bolsonarista venceu. Já o presidente teve apoiadores eleitos apenas no Amazonas, com Wilson Lima (União Brasil), e em Santa Catarina, com Jorginho Mello (PL).


Ao todo, doze estados escolheram seus governadores no segundo turno. Em Alagoas, Amazonas, Espírito Santo, Paraíba e Rondônia, além do Rio Grande do Sul, os atuais mandatários concorreram à reeleição e todos ganharam. Com isso, dezoito governadores foram reeleitos, confirmando a tendência de continuidade que se iniciou no primeiro turno. Na Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) venceu ACM Neto (União Brasil), que buscou se manter neutro durante o segundo turno. Em Sergipe, Fábio Mitidieri (PSD) ganhou do candidato petista, Rogério Carvalho.


No cômputo geral, PT e União Brasil foram os partidos que mais elegeram governadores – quatro cada um. Além da Bahia, governadores do PT foram eleitos no Ceará, no Piauí e no Rio Grande do Norte. O União Brasil ficou com Amazonas, Goiás, Mato Grosso e Rondônia. Outras legendas de direita ou extrema-direita (PL, PP, Novo e Republicanos) levaram sete estados, incluindo os três mais populosos do país – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – e também confirmaram a tendência de virada à direita que se desenhou no primeiro turno.


O jogo democrático, porém, ainda não está ganho. Apesar da derrota de Jair Bolsonaro na corrida à presidência e do fracasso bolsonarista em alguns estados, Camila Rocha avalia que é preciso acompanhar a infiltração do projeto autoritário na seara da direita. Segundo ela, esse campo político perdeu seu polo progressista nos últimos anos e uma nova liderança terá que ocupar esse espaço. “Estamos vendo a direita brasileira se bolsonarizar e isso ainda deve durar muito tempo. Vai demorar para ressurgir uma direita com ideologia democrática”, disse a cientista política no Foro.