Alessandro Candeas com brasileiros em Gaza, diante da igreja Sagrada Família, em 2022: ameaças de bomba impediram que o templo servisse de refúgio aos que agora tentam ser repatriados CRÉDITO: REPRODUÇÃO_ESCRITÓRIO CONSULAR DO BRASIL EM RAMALLAH_2022
Embaixador conta a operação para repatriar brasileiros na Faixa de Gaza
“Inércia angustiante diante de uma situação humanitária que se agrava”, escreve Alessandro Candeas
Brasília, 7 de outubro. “São meus últimos dias de férias no Brasil. Na madrugada de ontem para hoje, eu estava em casa, assistindo a um filme com minha família, quando o aplicativo Red Alert começou a disparar freneticamente alertas de mísseis. Avisei minha esposa e minha filha que dormiria no sofá da sala. Não preguei o olho. Passei a noite em claro, em contato com meus funcionários em Jerusalém e Ramallah. Todos estavam assustados.”
Em depoimento à piauí, o embaixador do Brasil junto à Autoridade Palestina, Alessandro Candeas, contou como foram os primeiros dias de guerra e os bastidores da operação que busca salvar os brasileiros da Faixa de Gaza. Depois que o conflito eclodiu, no dia 7, Candeas embarcou para Jerusalém no dia 9. Permanece lá, desde então, onde lidera os esforços para garantir água e comida para os brasileiros detidos na fronteira com o Egito.
Diplomata de carreira, Candeas tem 57 anos e serve na Palestina desde dezembro de 2020. Vive na residência oficial, em Jerusalém Oriental, cidade controlada por Israel e reivindicada como futura capital do Estado da Palestina. O escritório consular fica em Ramallah, capital administrativa da Autoridade Palestina, na Cisjordânia, a 21 km de Jerusalém. Ali, o embaixador trabalha com quatro diplomatas e três oficiais de chancelaria do Itamaraty, além de nove funcionários locais, alguns deles brasileiro-palestinos.
Candeas conta que 14 de outubro, sábado, foi “um dos dias mais difíceis” de sua vida. No dia anterior, Israel tinha dado um ultimato aos moradores da porção norte da Faixa de Gaza, obrigando todos a se deslocar para o sul. Entre eles estavam vários brasileiros, mas não havia onde abrigá-los. Todos temiam a invasão iminente das tropas de Israel. O embaixador teve de decidir, então, se tirava ou não os brasileiros da escola onde estavam abrigados.
“A decisão cabia a mim, e eu sabia que, se errasse, nunca conseguiria me perdoar. Em 36 anos de diplomacia, nunca vivi algo assim. Entre 2011 e 2012, quando trabalhava na embaixada brasileira em Bogotá, participei das operações sigilosas de resgate dos reféns das mãos das Farc. Era o começo do processo de paz entre o governo e a guerrilha, e os dois lados só confiavam no Brasil para fazer o resgate. Foi uma costura política e institucional muito tensa. Mas nada disso chega perto do que estou vivendo nessa guerra”, ele afirmou à piauí. “A responsabilidade agora era toda minha. Tive que resolver, em poucos minutos, o que fazer com a vida de mais de dez brasileiros, metade deles crianças.”
Segundo o embaixador, a situação hoje é de “inércia angustiante”. Os brasileiros ainda não foram autorizados a cruzar a fronteira que separa o Egito da Faixa de Gaza. “Todos os dias, vou ao Santo Sepulcro, na Cidade Velha de Jerusalém, e rezo. Peço a Deus que tenha misericórdia das famílias que estão sofrendo. Nossa missão está 90% cumprida.”
O relato completo pode ser lido pelos assinantes da piauí neste link.
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