Barbara Paz em uma cena de "Meu amigo Hindu"
Espectador privilegiado, mas solitário
Foi um privilégio assistir a Meu amigo hindu, escrito e dirigido por Hector Babenco, em sessão exclusiva, na segunda-feira (7/3/2016), cinco dias depois da estreia
Foi um privilégio assistir a Meu amigo hindu, escrito e dirigido por Hector Babenco, em sessão exclusiva, na segunda-feira (7/3/2016), cinco dias depois da estreia. O ingresso custou 27 reais e fui o único espectador da sessão de 20h55, na sala 4 do Kinoplex Itaim, em São Paulo. É um cinema confortável que tem projeção de boa qualidade, mas a ausência de público foi incômoda.
Ao sair, um funcionário do Kinoplex me perguntou se tinha gostado do filme. Achei graça na ironia implícita na pergunta. Mas o que responder? Ainda mais depois de ter assistido na véspera, no Rio, a Kung Fu Panda 3 com a sala cheia no Lagoon – típica sessão dominical, com pipoca, bala e refrigerante para alegria de crianças e adultos.
Entre outras diferenças, chama atenção a inversão que há entre os dois filmes. Kung Fu Panda 3, no Brasil, é exibido dublado em português. Já Meu amigo hindu é falado em inglês, embora seja produzido no Brasil por empresa produtora brasileira. Além disso, a dublagem de Kung Fu Panda 3 é bem feita. Já o inglês da maioria do elenco de Meu amigo hindu é claudicante. Os diálogos do filme de animação não causam incômodo ao público infantil e adulto; as vozes do drama, porém, constrangem, permitindo supor que Meu amigo hindu se passe em um país indefinido onde se fala inglês e os personagens, Diego (Willem Dafoe) à parte, são todos imigrantes.
Se o objetivo ao fazer Meu amigo hindu falado em inglês foi conseguir lançá-lo nos Estados Unidos, onde filmes legendados são mal aceitos, o público brasileiro não mereceria ao menos a mesma cortesia prestada por Kung Fu Panda 3 – uma versão bem dublada em português?
Meu amigo hindu começa com legenda assinada pelo autor do roteiro e diretor, informando que os fatos narrados ocorreram com ele. A vinculação à realidade não exclui situações imaginárias e fantasiosas, com ênfase em relações sexuais nas quais atrizes se expõem além do razoável. Trata-se, de qualquer modo, de narrativa apoiada na experiência de vida do próprio Hector Babenco, envolvendo pessoas próximas a ele, principalmente mulheres, nomeadas nos créditos finais.
Esse mergulho introspectivo amargo destoa do cinema feito usualmente no Brasil. Mereceria, apenas por isso, atenção especial. A lamentar, porém, é ser tão desigual, desandar rapidamente e no todo ser francamente constrangedor, salvo a bela citação final de Cantando na chuva, sustentada pela descontraída atuação de Bárbara Paz. Maria Ribeiro tem razão. Escrevendo ontem (9/3/2016) no Globo, disse que para ela “é a cena mais linda do filme – e uma das mais emocionantes que já [viu] na sala escura – […]” feita “com a pureza da imperfeição”.
Talvez esteja aí o diagnóstico mais preciso de Meu amigo hindu – falta de pureza e de imperfeição.
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